Correio braziliense, n. 19330, 28/04/2016. Política, p. 4

PSDB dará apoio institucional

Julia Chaib

Após se reunir com o Presidente do SenadoRenan Calheiros (PMDB-AL), e com o vice-presidente, Michel Temer, o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (PSDB-MG), disse que não condicionará o apoio a um eventual governo do PMDB a cargos em ministérios. O Senado analisa o pedido de impeachment de Dilma e deve votar a admissibilidade do processo até 12 de maio. Caso seja aprovado por maioria simples — 41 votos no plenário —, Dilma é afastada por até 180 dias. Enquanto isso, Temer já desenha o novo governo e tenta conseguir apoio de partidos, como o PSDB, que tem nomes cotados a assumir pastas.

Antes do encontro com Renan, Aécio e Temer estiveram reunidos. Em seguida, os três estiveram juntos por volta de 20 minutos na casa do Presidente do Senado. O tucano disse que foi questionado sobre as perspectivas do partido no caso de um eventual governo do PMDB. O PSDB está dividido se deve ou não participar com cargos no ministério que vem sendo desenhado por Temer, no caso de ele assumir. Hoje, Aécio vai se reunir com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para discutir o apoio tucano a Temer.

“Não condicionaremos em nenhum momento o apoio a essa agenda de emergência para o Brasil à participação no governo. Eu preferiria e me sentiria mais confortável, se esse apoio fosse congressual. Se nós pudéssemos dar uma apoio efetivo a uma agenda de reforma que esse governo do PT não fez, sem a necessidade de participar do governo. Nós daríamos o exemplo, uma sinalização clara de que o presidente Michel deve montar um governo acima da lógica de distribuir ministérios para partidos políticos ou para grupos de poder dentro do Congresso Nacional”, reafirmou Aécio, ao deixar o encontro com os peemedebistas.

Renan disse que não houve pedidos por parte dele nem de Temer nem de Aécio, mas que foi necessário discutir cenários e a importância de se fazer reformas institucionais. O peemedebista disse que é preciso superar a “agenda atual”. “(Temos de) resolver definitivamente essa questão do Banco Central, se vamos ter um Banco Central independente ou não, se vamos restaurar o BC na forma da sua criação, se vamos fazer reforma política, o que vamos fazer com a questão fiscal, quais mudanças virão ou não. Isso que tem que dominar o noticiário de cada dia. Essa coisa de cargo, de ocupação de cargo, isso não pode prevalecer”, reforçou.

 

PEC das eleições

O Presidente do Senado esteve, na terça-feira, reunido com a presidente Dilma Rousseff e também com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Renan se encontrará também com o ex-presidente José Sarney. “Converso permanentemente com ele. Mais do que nunca é preciso conversar com ele”, disse. Renan disse que manterá a relação que tem com o governo Dilma, caso Temer venha a assumir.

Na terça, em conversa com Dilma, Renan conversou sobre o rito a ser seguido no processo do impeachment e tratou também da proposta de antecipação das eleições gerais para outubro, defendida por senadores. Sobre a proposta de antecipar eleições, Renan disse considerar muito difícil a aprovação de uma mudança na Constituição. Ontem, senadores levaram a Dilma uma carta em que pedem apoio à proposta de emenda à Constituição (PEC) com a previsão de antecipação das eleições.

 

Frase

“Não condicionaremos em nenhum momento o apoio a essa agenda de emergência para o Brasil à participação no governo”

 

Aécio Neves, presidente do PSDB

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Líder de Dilma ataca o vice

O líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), fez duras críticas ao vice-presidente, Michel Temer. O senador petista acusou o vice de “sentar na cadeira antes da hora” e de tratar o Congresso como um órgão auxiliar. “Queria demonstrar o meu repúdio ao vice-presidente da República, que, ignorando que ainda estamos em um processo de análise do impeachment, faz reuniões abertas para tratar de cargos no governo”, criticou.

O senador também criticou a forma como Temer tem agido como presidente, ao montar seu possível governo ignorando o processo em curso no Senado. “Ele trata este Congresso como um órgão de homologação e já se considera presidente da República.”

 

Em sua crítica, o líder do governo relembrou um célebre acontecimento político, há 30 anos, quando o então eleito prefeito de São Paulo, Jânio Quadros, desinfetou a poltrona da prefeitura. Na véspera da eleição, o candidato Fernando Henrique Cardoso havia sentado na cadeira para posar para uma foto. “Gostaria que os senhores testemunhassem que estou desinfetando esta poltrona porque nádegas indevidas a usaram”, foi a fala de Quadros na época, parafraseada hoje pelo líder Humberto Costa.