Correio braziliense, n. 19330, 28/04/2016. Cidades, p. 27

Desemprego afeta 282 mil em Brasília

Thiago Soares

A rotina de Fernanda Fernandes, 31 anos, se resume à busca por emprego fixo e trabalhos temporários. Desempregada há quatro meses, ela se soma às 282 mil pessoas na mesma situação no Distrito Federal. Os reflexos de uma das piores crises econômicas vividas no Brasil influenciam a procura de Fernanda, pois postos de trabalhos vêm sendo fechados. A taxa de desemprego na capital do país passou de 17,2%, em fevereiro, para 18,1%, em março. Isso mostra que, em menos de 30 dias, 17 mil pessoas ficaram sem ocupação. “Está difícil a situação. É um monte de gente procurando emprego e poucas vagas no mercado. Isso chega a ser desesperador”, lamenta a moradora de Samambaia.

Os dados são da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-DF), divulgados ontem pela Secretaria de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, pela Companhia de Planejamento (Codeplan) e pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese). O levantamento revela que, em um ano, o número de desempregados na capital passou de 13,2% para 18,1%, alcançando 84 mil desempregados no período.

Enquanto não consegue um novo trabalho, vez ou outra Fernanda é chamada para um ‘bico’. Em festa infantis, ela atua como animadora para tentar sobreviver. “O que não dá é para ficar parada. As contas continuam chegando. A gente vai fazer um bico ou outro, mas continuo a minha busca por emprego”, conta. De acordo com a PED, de março do ano passado para cá, o número de pessoas vivendo de forma autônoma passou de 18% para 19%, enquanto o quantitativo de empregados com carteira assinada passou de 71% para 70%, com menos 4 mil pessoas.

Lauro Ferreira da Silva, 39, está desempregado há cinco meses. O motorista tenta diariamente nas portas das empresas conseguir uma vaga. “Tem sido difícil, mesmo sendo numa área com tanta demanda. Os empregadores não estão contratando; pelo contrário, estão desligando os funcionários”, reclama o morador de Santa Maria. A baixa é resultado da redução do nível de ocupação, com a eliminação de 30 mil postos, e também do aumento da População Economicamente Ativa (PEA), com a entrada de 54 mil aptos a trabalhar no mercado da região.

O mestre e doutor em economia da Universidade de Brasília (UnB) Flávio Basílio avalia que a tendência é a taxa de desemprego continuar a crescer ao longo do ano. “Estamos em um processo de ajustamento de preços relativos. Isso significa que estão reajustando salários, taxas de câmbios e outras, afetando diretamente o número de vagas. A tendência é a manutenção do desemprego, inclusive quando a economia voltar a crescer, porque o mercado reage de forma pouco mais lenta às mudanças”, detalhou.

Os setores de serviços e de comércio foram os que mais apresentaram queda nos postos de trabalho, com menos 24 mil, e menos de 4 mil, respectivamente. A construção civil criou 2 mil vagas, e a Indústria de Transformação, mil. A coordenadora do Observatório do Trabalho, Luciana Neres, relatou que a Secretaria do Trabalho não tem medido esforços para mudar o cenário atual. “Isso vem ocorrendo por meio de capacitações. Estamos com cursos a distância em andamento e negociando parcerias com instituições para qualificar o trabalhador local”, comentou. Segundo a pasta, no último mês, mil pessoas se formaram pelo Portal de Qualificação profissional — Plataforma on-line em 14 cursos, que, atualmente conta com 6,4 mil inscritos.

 

Sem ocupação

Mês Ano Desempregados Taxa

Março 2015 198 mil 13,2%

Junho 2015 223 mil 14,2%

Setembro 2015 225 mil 14,6%

Dezembro 2015 237 mil 15,4%

Março 2016 282 mil 18,1%

 

 

Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego do DF, da Secretaria do Trabalho