Esvaziamento do Itamaraty leva Tucano Serra a resistir ao cargo

Tida como certa, a ida do senador José Serra (PSDB-SP) para o Ministério das Relações Exteriores passou a ser dúvida. O tucano esperava assumir a pasta turbinada com a incorporação das políticas de comércio exterior, hoje sob responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento. No entanto, o vice-presidente Michel Temer desistiu da ideia após pressão de associações do setor produtivo.

Os ex-ministros Moreira Franco e Geddel Vieira Lima, emissários do vice, passaram a tarde no Senado para tentar contornar impasses sobre a participação no ministério do eventual governo de coalizão. Após a reunião, Serra disse que não houve evolução sobre sua ida.

— A proposta de anexar o comércio exterior às Relações Exteriores acabou não dando certo — comentou Geddel.

O tucano rebateu as críticas de aliados sobre o perfil do ministério que Temer está montando, tendo como base o chamado “centrão” do governo Dilma:

— Todos sabem que vai ter pancada, vai ter ônus. Mas quem assumir vai ter a responsabilidade pelo que vem por aí. Estamos no meio de um impeachment, montando um governo dentro de um governo.

Ontem, dois ex-ministros que acabam de deixar o governo da presidente Dilma Rousseff negociavam os retornos à Esplanada. Hélder Barbalho, que deixou há uma semana a Secretaria de Portos, deve voltar ao mesmo cargo, como antecipou a coluna do GLOBO Panorama Político. Eduardo Braga, por sua vez, quer retornar à pasta das Minas e Energia, mas sofre restrições da bancada peemedebista no Senado.

Ainda no PMDB, para contemplar a Câmara, o deputado Osmar Terra (RS) deve ficar com o Ministério do Desenvolvimento Social. A bancada deverá ter ainda outro nome. Na cota do diretório do Rio, Temer convidou o deputado Leonardo Picciani (RJ) para ser o ministro do Esporte, mas ele recusou.

Avançaram as negociações com o PR. Temer sinalizou que o Ministério da Aviação Civil poderá ser incorporado aos Transportes e entregue ao partido. O candidato ao cargo é o ex-líder do partido Maurício Quintella Lessa (AL).

Um dos partidos que seria contemplado mais generosamente, o PP, corre risco de ficar sem dois espaços prometidos caso insista num deputado sem afinidade com a área para o Ministério da Saúde. Com as resistências no PP em apadrinhar o médico Raul Cutait para a pasta, a cúpula peemedebista já sinaliza que a legenda pode ficar sem o Ministério da Agricultura e o comando da Caixa Econômica Federal.

 

LENDO O BARÃO DO RIO BRANCO

Um flagrante do Blog do Moreno no gabinete de José Serra revela a preparação dele para ocupar a casa do barão do Rio Branco: o Itamaraty.

 

O globo, n. 30222, 05/05/2016. País, p. 9