O Estado de São Paulo, n. 44727, 02/04/2016. Política, p. A4

NOVA OPERAÇÃO APROXIMA A LAVA JATO DO MENSALÃO E DO CASO CELSO DANIEL

Fase denominada Carbono 14 prende Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, e empresário Ronan Maria Pinto, de Santo André (SP);força-tarefa investiga possível conexão entre desvios na Petrobrás com assassinato do prefeito petista e compra de apoio político

 

A Operação Carbono 14, fase mais recente da Lava Jato, deflagrada ontem, aproximou a investigação sobre os desvios de dinheiro e corrupção em negócios da Petrobrás dos casos mensalão (compra de apoio no Congresso na primeira gestão Lula) e Celso Daniel (assassinato do então prefeito de Santo André em 2002). A Polícia Federal prendeu temporariamente o empresário Ronan Maria Pinto, dono do jornal Diário do Grande ABC, e o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira. Foram levados coercitivamente para depor o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o jornalista Breno Altman, ligado ao ex-ministro José Dirceu. Delúbio e Dirceu foram condenados em 2012 pelo Supremo no mensalão. As autoridades cruzaram dados da Lava Jato com os do mensalão. Entre os dois casos, surgiram os nomes do empresário Marcos Valério de Souza, pivô do escândalo de 2005, e do pecuarista José Carlos Bumlai, preso no ano passado sob acusação de participação no esquema de desvios e de corrupção na Petrobrás. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República, em 2012, Valério disse que um empréstimo feito por Bumlai no Banco Schahin pagou “uma chantagem do empresário Ronan Maria Pinto que, aparentemente, tinha o ex-presidente Lula, Gilberto Carvalho (ex-ministro da presidente Dilma e ex-chefe de gabinete da Presidência na gestão Lula) e José Dirceu como vítimas”. Em novembro do ano passado, sentença da 1.ª Vara Criminal de Santo André (Grande São Paulo) condenou Ronan, acusado de liderar esquema de cobrança de propina de empresas de transporte contratadas pela prefeitura na gestão do prefeito do PT Celso Daniel, executado a tiros em janeiro de 2002. Para a Lava Jato, os R$ 6 milhões entregues ao empresário podem ter ligação com a extorsão relacionada aos crimes em Santo André. “A razão pela qual ele recebeu esses valores é a grande pergunta que a investigação pretende responder”, disse o procurador Diogo Castor de Matos. Quanto a Silvio Pereira, a Lava Jato diz ter identificado repasses de empreiteiras com negócios na Petrobrás a ele.