O Estado de São Paulo, n. 44727, 02/04/2016. Política, p. A6

LAVA JATO INVESTIGA REPASSES A SILVINHO

Ministério Público Federal e PF apuram pagamentos feitos por empreiteiras para duas empresas do ex-secretário do PT alvo do mensalão
Por: Ricardo Brandt /Andreza Matais/ Julia Affonso /Fausto Macedo

 

Ricardo Brandt

Andreza Matais

Julia Affonso

Fausto Macedo

 

Relatório do Ministério Público Federal aponta que o ex-secretário do PT Silvio Pereira recebeu R$ 1,3 milhão de empreiteiras, de empresas de investigados e por serviços de publicidade para o PT na eleição de 2012. Desse total, R$ 508 mil foram repassados a Silvinho, como o ex-dirigente petista é conhecido, pela OAS e UTC Engenharia entre 2009 e 2011. O dinheiro foi transferido a uma das empresas do ex-secretário, a DNP Eventos. Silvinho foi preso temporariamente ontem. “É provável que tais pagamentos se refiram à ‘mesada’ que o PT destinou a Silvio Pereira por intermédio de desvios em contratos que a UTC e a OAS mantinham com a Petrobrás”, diz a força-tarefa da Lava Jato. Silvio Pereira é quadro histórico do PT. Ele foi denunciado pelo crime de associação criminosa no caso do mensalão. Não foi condenado por ter aceitado proposta de suspensão condicional do processo. Segundo a Lava Jato, o ex-secretário do partido controlava, além da DNP Eventos, a empresa Central de Eventos e Produções. Pela DNP, Silvio Pereira recebeu um total de R$ 925.070,50 da OAS, UTC, da Projetec, da Treviso e de publicidade relacionada ao PT. A força-tarefa aponta que a Central de Eventos e Produções “teve relacionamentos financeiros identificados com alvos da Operação Lava Jato”, pois recebeu, ao todo, R$ 400.500 entre 21 de maio de 2007 e 28 de novembro de2009 dos investigados: Julio César dos Santos, ligado ao ex-ministro José Dirceu; TGS Consultoria, também relacionada a Dirceu; e SP Terra plenagem, ligada ao lobista Adir Assad, condenado na Lava Jato. “A Central de Eventos e Produções “devolveu” R$ 170.120 a Julio César dos Santos e à TGS Consultoria. Cabe destacar que Julio César foi um dos sócios da Central de Eventos, o que, em tese, poderia explicar o repasse como uma distribuição de lucros”, destaca a força-tarefa.

 

DNP Eventos. A Procuradoria diz que a OAS pagou R$ 486.160 emquatrovezes.Umaem2009, duasem2010eumaem2011.Da UTC, foi identificado um depósito no valor de R$ 22.522,50 em 2011. A OAS e a UTC são investigadas na Lava Jato por suspeita de cartel na Petrobrás. Segundo o dono da UTC, Ricardo Pessoa, delator da Lava Jato, parte da propina da Petrobrás destinada ao PT foi paga por meio de doações eleitorais oficiais entre 2006 e 2012. Os procuradores identificaram ainda que a DNP Eventos recebeu R$ 154 mil da empresa Projetec, controlada por outro delator da Lava Jato, o empresário Augusto Mendonça, entre 14 de julho de 2010 e 15 de dezembro de 2010, e de R$ 12.388 da empresa Treviso Empreendimentos, do lobista Júlio Camargo em 19 de janeiro de 2012. Julio Camargo também é delator. Ele e Augusto Mendonça já foram condenados na Lava Jato. “Augusto Mendonça falou que Silvio Pereira teria lhe prestado serviços de pesquisas eleitorais. Alegou que tinha conhecimento que Silvio Pereira tinha relação próxima ao PT e a Petrobrás, alegando que contratou os serviços para ajudá-lo em razão de uma crise financeira que estaria passando após o processo do mensalão”, afirma o relatório da Procuradoria.

 

Serviços. O documento aponta que a DNP recebeu aproximadamente R$ 250 mil “como pagamento por possíveis serviços de publicidade por carros de som e pagamento de material gráfico para campanhas de candidatos do PT na eleição municipal de 2012. Aparentemente, a prestação de tais serviços é incompatível com o objeto social da empresa”, diz a força-tarefa.  O Ministério Público Federal havia requerido a prisão preventiva de Silvinho. A força-tarefa viu “prática habitual de crimes e de total descaso com a Justiça” por parte do ex-secretário do PT. O juiz Sérgio Moro, porém, concedeu a custódia temporária, válida por cinco dias.

 

‘Mesada’

“É provável que tais pagamentos se refiram à ‘mesada’ que o PT destinou a Silvio Pereira por intermédio de desvios em contratos que a UTC e a OAS mantinham com a Petrobrás”

FORÇA-TAREFA DA OPERAÇÃO LAVA JATO, EM RELATÓRIO