Valor econômico, v. 16, n. 3994, 29/04/2016. Brasil, p. A4

Desemprego deve chegar a 10,8% no trimestre, projetam analistas

Camilla Veras Mota

A taxa de desemprego deve manter a tendência de alta observada neste início de ano e chegar a 10,8% no trimestre encerrado em março, vindo de 10,2% em fevereiro, conforme a média de 18 projeções de consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data. As estimativas para a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que será divulgada hoje, variam de 10,5% a 11,1%. No mesmo intervalo de 2015, a desocupação foi de 7,9% da força de trabalho, quase três pontos percentuais abaixo da média de expectativas.

Na esteira da crise econômica, o volume de desempregados seguirá crescendo e se distanciando ainda mais da marca dos dez milhões ultrapassada no levantamento de fevereiro. Nas contas da Tendências, a ocupação deve recuar 1,4% contra os três meses até março de 2015, após diminuir 1,3% no trimestre encerrado em fevereiro. A força de trabalho, por sua vez, seguirá avançando em ritmo próximo ao dos meses anteriores, desta vez 1,6%, na mesma comparação.

"Apesar da alta, a taxa de desemprego não tem sofrido pressão demográfica forte", diz Thiago Xavier, economista da instituição, referindo-se ao crescimento vegetativo moderado, na casa de 1%, e ao leve desalento observado nos últimos meses, que tem contido o volume de pessoas de volta ao mercado em busca de uma vaga. Sem essa ajuda, que limita em parte o crescimento da força de trabalho, o desemprego médio previsto para 2016 seria superior aos 10,9% projetados pela Tendências.

A LCA Consultores tem cenário parecido para a Pnad Contínua de março, com o volume de empregados encolhendo 1,3% sobre o primeiro trimestre de 2015 e avanço de 1,8% na força de trabalho. Essa combinação levaria a taxa de desemprego dos 7,9% entre janeiro e março do ano passado para 11%.

A renda deve seguir encolhendo no ritmo forte observado no primeiro bimestre. A LCA espera contração de 2,8% no rendimento médio real no primeiro trimestre, sempre na comparação com o mesmo intervalo do ano anterior, e a Tendências, "algo próximo de 3%", segundo Xavier. Nos trimestres móveis encerrados em janeiro e fevereiro, a remuneração de todos os trabalhos captada pela Pnad diminuiu em média 3,5%, já descontada a inflação. Em 2015, a variável ficou praticamente estável, com leve alta de 0,1%.

 

O ritmo fraco da atividade e os níveis ainda baixos dos índices de confiança, especialmente diante do prolongamento da crise política, estão entre os principais fundamentos citados pelo Bank of America Merrill Lynch para basear a expectativa de aumento do desemprego no decorrer deste ano. Para março, a projeção é de 10,6%.