O Estado de São Paulo, n. 44735, 10/04/2016. Política, p. A5

Comissão encerra fase de discussão do parecer

Previsão é de que texto de Jovair Arantes seja votado e aprovado amanhã na Câmara
Por: Daniel Carvalho/ Igor Gadelha

 

Daniel Carvalho

Igor Gadelha / BRASÍLIA

 

Terminou na madrugada de ontem o primeiro teste do governo na batalha contra o impeachment da presidente DilmaRousseff.Emmaisde13horas de discussões, que começaram na tarde de sexta-feira e só terminaram às 4h 42 de ontem, pouco mais da metade dos 116inscritos falou – 40 deputados se manifestaram a favor do impedimento da petista, 20 a favor do governo e um preferiu não se manifestar, o deputado Bebeto (PSB-BA). A votação do parecer favorável ao impeachment está marcada para o fim da tarde de amanhã, após mais algumas horas de discursos dos 27 líderes partidários, do relator Jovair Arantes (PTB-GO) e do advogado geral da União, José Eduardo Cardozo. A sessão está marcada para começar às 10 horas. Governistas assumiram derrota na comissão. “Aqui,(a oposição) pode ganhar. Não estou nem ligando. Não queria nem votar para não convalidar essa armação, não queria ser maestro dessa orquestra de Eduardo Cunha”, disse o deputado Silvio Costa (PT do B-PE), vice-líder do governo, mencionando o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Um dos principais defensores de Dilma, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), afirmou que o Brasil chegou à atual situação, “porque quem ganhou a eleição não teve a humildade de reconhecer que ganhou uma eleição dividida e chamar o País a uma reconciliação e quem perdeu não teve a resignação de aceitar o resultado e pensar no País, preferiu contestar e pensar apenas na sua ambição política”. “Essa página, seja qual for o resultado, tem que ser virada”, disse. Durante a madrugada, 19 parlamentares contrários ao impeachment falaram consecutivamente, pois não havia governistas em plenário, além dos que já haviam se manifestado.

 

Cargos. Os principais partidos que negociam ministérios e cargos como Planalto ou não apareceram ou se manifestaram contra o governo, caso dos representantes do PP e do PSD.O PP, que comanda o Ministério da Integração, ganhará mais uma pasta, provavelmente o Ministério da Saúde. O PSD controla o Ministério das Cidades e também deve ganhar mais uma pasta, talvez o Ministério do Turismo. Nenhum deputado do PR se manifestou durante a sessão. O deputado José Rocha (PR-BA) cedeu seu lugar a Pepe Vargas (PT-RS) e Vicentinho Júnior (TO) não falou.

 

Operação. Os interlocutores do Planalto na Câmara não conseguiam esconder os sinais de exaustão. As negociações de cargos e ministérios em troca de apoio no enfrentamento ao impeachment começavam cedo e terminavam de madrugada, em reuniões presenciais ou em acalorados telefonemas. Governistas oscilavam entre dizer que estavam perto de um empate na comissão e que já contavam com uma derrota. “Você f... a gente direitinho”, disse um vice-líder ao presidente do colegiado durante almoço no décimo andar da Câmara, na última quinta-feira, um dia após a leitura do relatório. Na noite anterior, este mesmo parlamentar circulava por restaurantes frequentados por políticos. “É um covarde. Sofre de síndrome de falta de liderança”, dizia ao celular antes de sentar à mesa com um ministro para quem mostrou sua lista de votos redigida em papéis guardados no bolso do paletó. Ao longo da semana, o celular do líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), começou a tocar às 6h30.Uma das primeiras ligações geralmente era de Jaques Wagner. Atual chefe do Gabinete Pessoal de Dilma, Wagner continua articulando pelo Planalto. Guimarães tem evitado dar entrevistas sobre as negociações e procura seguir algumas regras, como atender todos os telefonemas. / COLABOROU BEATRIZ BULLA