Título: Sem ocultar os afilhados
Autor: Schiaffarino, Júlia
Fonte: Correio Braziliense, 14/10/2011, Política, p. 6

Questionado pelo MP, prefeito de Tabira (PE) justifica que fez as contratações conforme apoio recebido nas eleições

Recife ¿ A sinceridade com que a Prefeitura de Tabira, município do Sertão de Pernambuco, respondeu ao Ministério Público do Estado (MPPE) sobre os critérios usados para contratação 492 servidores temporários surpreende. Em três páginas de um documento enviado ao órgão e assinado pelo próprio prefeito, José Édson Carvalho (PSB), conhecido como Dinca, constam nomes, endereços e CPFs dos selecionados e, ao lado, frases que deixavam claro que todos trabalharam na campanha do prefeito ou foram indicados por ele.

Um dos casos é o de Isabel Cristina. O porquê da contratação dela veio com todas as letras: "Trabalhou no porta a porta". Parentes dos cabos eleitorais do prefeito também foram beneficiados. Um exemplo é o da "irmã de Isabel, que trabalhou na campanha", como foi identificada, de acordo com o mesmo documento, Maria Aparecida da Conceição. Assim como no caso da irmã, o emprego solicitado por ela era "na área educacional" e, onde alguém poderia pensar que constariam as qualificações ou um histórico trabalhista da pretendente, aparecia apenas "já ensinou". Era todo o currículo dela.

Detalhes Entre os nomes contidos na mesma página, a falta de detalhes sobre os "escolhidos da prefeitura" atinge um nível mais grotescos. Trata-se da indicação de Katiane Maria Bernadino, identificada como "filha de Gira". Ao lado do item "solicitação de emprego" a informação é a das mais diretas: "qualquer lugar". O mais comum, porém, é a frase "emprego em geral", que aparece junto do nome de nove pessoas.

"Indicação do prefeito Dinca" também é comum e está em vários casos da lista, alguns, inclusive, escritos à mão. Em outros, a indicação torna-se indireta. Exemplos são os de Miriam Bezerra de Oliveira, que "falou com Dinca" e "José Hélio da Silva, que "já trabalhou na casa de Dinca".

Provas consistentes Quase sem conter o riso, o promotor responsável pelo caso, Leôncio Tavares, disse que, quando viu a lista, quase não acreditou. "O Ministério Público recebeu uma denúncia de que a Prefeitura de Tabira estaria com mais contratados do que concursados. Pedimos explicações sobre a quantidade de cargos e sobre como foi o processo seletivo e, então, nos mandaram essa lista. Nunca tinha me deparado com tanta sinceridade", relatou, sem esconder a ironia.

Diante do documento, ele ajuizou uma ação por improbidade administrativa e pediu a cassação dos direitos políticos do prefeito. "Não é um processo administrativo, é uma ação judicial. As provas são consistentes", ressaltou. De acordo com ele, os contratos investigados vêm sendo renovados há três anos, desde quando Dinca assumiu o cargo.

O último concurso público de Tabira foi realizado em 2001 e o quadro de concursados da prefeitura não ultrapassa 400 pessoas. O prefeito Dinca foi procurado pela reportagem, mas não atendeu as ligações. A secretária de Administração, Roberta da Costa, também não foi localizada.