Valor econômico, v. 16, n. 3994, 29/04/2016. Especial, p. A14

Temer nega que vá disputar reeleição

Bruno Peres

O vice-presidente Michel Temer disse ontem em entrevista ao "SBT Brasil" que pretende "reinstitucionalizar" o país, sem pretensão de concorrer à reeleição, caso substitua no cargo a presidente Dilma Rousseff. O vice-presidente afirmou que todo e qualquer plano econômico emergencial para o país deve buscar a retomada da geração de empregos. Em tom de cautela por respeito à necessidade de afastamento de Dilma pelo Senado para uma eventual gestão própria, Temer afirmou que poderá implementarimediatamente alguma das ideias debatidas nos últimos dias com representantes de diversos segmentos e setores da sociedade.

"Todas elas voltadas para o crescimento econômico", disse o vice-presidente ao telejornal veiculado durante a noite, acrescentando que apoiar o fim da reeleição lhe conferirá "maior liberdade para ação governamental". "Ficaria felicíssimo se ao final de um eventual governo eu conseguisse colocar o país na rota do crescimento, pacificar o país", completou. Mais cedo, parlamentares do PMDB com os quais Temer se reuniu disseram acreditar em um ambiente político favorável à aprovação do fim da reeleição. Essainiciativa, porém, não é prioridade consensual entre lideranças da oposição, que defendem o debate emergencial sobre medidas para a economia.

Ainda na entrevista, Temer afirmou que cada uma das instituições do país cumprirá seu papel, sem que haja, por exemplo, interferência na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF), que alcança diversos políticos, inclusive do PMDB. Sobre propostas impopulares que terá que encaminhar para análise dos parlamentares, Temer disse ter certeza de que as medidas, que não prosperam na gestão Dilma Rousseff, "serão compreendidas" pelo Congresso. "E seguramente serão acordadas previamente com os setores que eventualmente venham participar dessas negociações", disse o vice-presidente.

Temer aproveitou a entrevista para rebater acusações de que sua eventual gestão acabará com programas sociais e direitos trabalhistas. O vice-presidente disse importante manter um "trato institucional" com a presidente Dilma porque, em sua avaliação, homens públicos têm que dar exemplo. "Não tenho nenhum desapreço pela presidente por mais que ela possa fazer uma ou outra acusação ao meu ver injustificável", disse o vice-presidente.

Temer disse não se impressionar com ameaças feitas pelo PT e apoiadores do governo em reação ao afastamento da presidente Dilma Rousseff. "Não vou dar atenção a isso, mas aos problemas do país", disse Temer, afirmando que manifestações de rua não podem comprometer o livre trânsito de pessoas.

 

Já o ex-ministro Moreira Franco, pemedebista próximo a Temer, disse ontem não acreditar que Dilma permitirá que ocorra "vandalismo" em uma eventual transição de governo, dificultando trocas de informações. Representantes do setor siderúrgico reunidos ontem com Temer, por sua vez, manifestaram otimismo com melhora no diálogo em um novo governo pós-Dilma.