Valor econômico, v. 16, n. 3994, 29/04/2016. Especial, p. A14

PMDB da Câmara reclama de 'ministério de amigos'

Raphael Di Cunto

Thiago Resende

Atento em formar uma ampla base aliada no Congresso com a distribuição de vagas para outros partidos na Esplanada dos Ministérios, o vice-presidente Michel Temer desagradou a bancada do seu partido, o PMDB, na Câmara com a sinalização de que os deputados terão direito a escolher dois ministros caso o Senado Federal confirme o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O aceno com duas pastas, feito ao líder da bancada, Leonardo Picciani (RJ), na noite de terça-feira, mostraria que serão espaços de pouca expressão, longe do cobiçado Ministério da Saúde, prometido ao PP e ocupado até aquele dia pelo deputado Marcelo Castro (PI). Picciani foi a Temer dizer que a bancada esperava receber espaço proporcional ao que conquistou durante o governo do PT: três ministérios.

Temer, segundo relatos, afirmou que ficou gratamente surpreso com o apoio que recebeu - 59 dos 67 deputados votaram a favor do impeachment de Dilma - e disse que a bancada seria contemplada com duas pastas, mas não quis dizer quais. Se o vice não quer antecipar os postos e sinaliza dois ministérios, afirmam, coisa boa não vem.

Nas rodas de conversas do PMDB da Câmara já chovem críticas as primeiras escolhas do vice. "Quando ele falou que faria um ministério de notáveis, esqueceu de dizer que seriam notáveis amigos dele que estavam desempregados", alfinetou um pemedebista em uma dessas conversas.

O círculo mais próximo de Temer comporá o núcleo do governo: o ex-deputado Eliseu Padilha para a Casa Civil, o ex-governador Moreira Franco em uma agência para cuidar das concessões, o ex-deputado Geddel Vieira Lima na articulação política e o ex-presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves no Ministério do Turismo e Esporte.

Os deputados reclamam que Temer, na Presidência, reservou os principais postos para seus amigos, imaginando que os pemedebistas o apoiarão por "gravidade" e repetindo o que fez no início do governo Dilma, quando as três vagas da Câmara ficaram para deputados e ex-deputados ligados a ele e que não passaram pela chancela da bancada.

 

Os protestos, inclusive, já chegaram aos ouvidos do vice. Uma semana antes da votação do impeachment no plenário da Câmara, Temer foi alertado da resistência que parte dos deputados tinham a Geddel e Padilha, escolhidos depois para comandar as relações com o Congresso.