Valor econômico, v. 16, n. 3986, 18/04/2016. Política, p. A7

MAIORIA NO SENADO QUER SAÍDA DE DILMA

Por: Por Vandson Lima

Por Vandson Lima | De Brasília

 

Novo campo de batalha do impeachment, o Senado Federal já é majoritariamente favorável à saída da presidente Dilma Rousseff. Pelo menos 46 dos 81 senadores posicionam-se abertamente nesse sentido,número mais do que suficiente para que o processo seja admitido e a presidente afastada do cargo durante seu trâmite, por até seis meses. Para a cassação definitiva, são necessários 54 votos.

O revés para Dilma dá-se mesmo diante dos esforços do presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). A seu modo, discreto e cuidadoso, Renan tentou na última semana amealhar apoios para Dilma na Câmara dos Deputados, segundo aliados. Mas não obteve sucesso nem mesmo em seu reduto político, Alagoas: os dois pemedebistas locais, Cícero Almeida e Marx Beltrão, votaram pelo impeachment. No caso deste último, indeciso até dias antes da votação, uma reunião com o vice-presidente Michel Temer na sexta-feira selou sua decisão.

Mais que solidariedade a Dilma, a relação ruidosa com Temer levou Renan nos últimos meses a conduzir reuniões com ministros e parlamentares, de diferentes matizes, em busca de soluções para a crise que não acabassem com o vice assumindo o comando do Palácio do Planalto.

Agora, pragmático, Renan Calheiros já contabiliza o afastamento de Dilma, ao qual não deverá impor grande resistência - os prazos previstos no rito nesta fase são claros e não há muita margem para manobra. Além disso, a pressão da opinião pública ficará toda sobre ele.

O presidente do Senado trabalha nos desdobramentos que virão mais à frente. Sua aposta é que ele terá à mão dois instrumentos para desgastar Temer, caso eles não se acertem.

Tornado presidente interino, Michel Temer precisará de Renan para fazer andar no Congresso Nacional medidas sensíveis à economia.

A oposição de Renan Calheiros é cenário indesejado a qualquer governo: no início do ano passado, possesso com decisões de Dilma que desalojaram aliados seus da máquina federal, o senador mandou devolver sem votar uma medida provisória que revia as desonerações da folha de pagamentos. Em uma canetada, Renan provocou um rombo bilionário nas receitas esperadas pelo governo.

Ao mesmo tempo, Renan terá o poder de acelerar ou encurtar os prazos seguintes do processo de impeachment. "Enquanto Temer for interino, Renan terá força", aponta um aliado. O presidente, no entanto, estará sob intensa pressão da maioria do Senado, hostil a Dilma, e do seu próprio partido.

No PMDB, metade da bancada (nove senadores de 18) aderiu ao impeachment mesmo antes de o processo chegar. Líder da sigla, o senador Eunício Oliveira (CE) já avisou que adotará a posição da maioria. Junto comele irão outros cinco senadores que seguem a decisão do partido. A decisão do PMDB do Senado pode sepultar de vez as chances de Dilma Rousseff, pois elevaria o placar a 52 votos pela deposição, faltando apenas dois para a cassação ao fim do processo.

Apenas João Alberto Souza (MA) e Roberto Requião (PR) são votos no PMDB declarados contra a saída de Dilma. Jader Barbalho (PA) e Sandra Braga (AM), esposa e suplente do ministro de Minas e Energia EduardoBraga, são possíveis contrários.

As composições feitas por Dilma para obter votos na Câmara também complicam acertos com pemedebistas no Senado. O apoio do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) deve inviabilizar que Edison Lobão (PMDB-MA), hoje indeciso, vote a favor da presidente. Mesmo caso do próprio Eunício, dada a aproximação do governo com o grupo político dos irmãos Cid e Ciro Gomes (PDT).

Outros partidos que deram sustentação ao governo no Senado desembarcaram: o PP (seis senadores) fechou posição pela deposição de Dilma. No PR, dois senadores são favoráveis, um é contra e um está indeciso sobre o impeachment. No PSD, três de quatro parlamentares querem a saída da presidente.

Por fim, há um grupo heterogêneo de senadores que anunciará hoje a busca por uma outra solução para a crise, independente do resultado da votação na Câmara, com convocação de um plebiscito para realização de novas eleições. Há favoráveis ao impeachment (Cristovam Buarque, do PPS-DF), contrários (João Capiberibe, do PSB-AP) e neutros (Walter Pinheiro, sem partido-BA) no grupo, que conta com a simpatia de Renan.

A primeira grande disputa será esta semana, pela composição da Comissão Especial de 21 integrantes que julgará Dilma Rousseff. Uma das duas vagas no comando da comissão - presidência e relatoria - ficará com o PMDB, maior partido do Senado, a quem cabe a escolha. Na sequência, PT e PSDB contam com 11 senadores em exercício e disputam a outra cadeira.

Os tucanos têm pressionado para ficar com a presidência, para a qual indicariam o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). O PMDB resiste, mas, caso lhe caiba indicar o relator - cujo parecer conduzirá o possívelafastamento de Dilma nos próximos dias - os favoritos até o momento são a senadora Simone Tebet (MS) e Raimundo Lira (PB). Pré-candidata à Prefeitura de São Paulo, a ex-petista Marta Suplicy pediu o posto ao líderEunício, mas este recusou contemplá-la. Não está descartada a escolha de um parlamentar de fora do PMDB.