Valor econômico, v. 16, n. 3986, 18/04/2016. Política, p. A10

Dilma recorrerá ao STF e tentará mudar decisão no Senado

Por: Andrea Jubé / Daniel Rittner

Por Andrea Jubé e Daniel Rittner | De Brasília

 

Na manhã do primeiro dia do resto de seu mandato, a presidente Dilma Rousseff acordou cedo como de costume e, às 7h30, acompanhada de seguranças, vestiu uma roupa vermelha e deixou o Palácio da Alvorada para andar de bicicleta. No percurso, passou diante do Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer, e que nas últimas semanas, transformou-se no quartel-general do PMDB, de onde até o mesmo o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo cunha (PMDB-RJ), fidelizou votos favoráveis ao impeachment. Dilma está indignada, sente-se traída, vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal e não renunciará.

Em outra frente, a cúpula do PT quer que Dilma proponha ao Congresso Nacional, nos próximos dias, a redução de seu mandato e a realização de novas eleições presidenciais em outubro, coincidentes com as municipais.Mas essa possibilidade ainda não tem o aval definitivo de Dilma nem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, embora ambos não descartem a hipótese.

O apelo ao Supremo é consenso, mas quando isso será feito é um dilema. Alguns assessores defendem que seja feito logo nos primeiros dias após o recebimento do processo no Senado. A intenção seria evitar o desastrepolítico de um afastamento de Dilma por até 180 dias. O problema é que o STF pode alegar a impossibilidade de analisar o mérito enquanto a comissão especial de senadores ainda estiver trabalhando.

Outra visão que circula no governo é a hipótese de recurso ao Supremo somente depois do provável afastamento, previsto para 10 de maio. Politicamente, teria um "timing" inadequado, pois o vice Michel Temer jáestaria sentado na cadeira presidencial. Juridicamente, no entanto, avalia-se que esse tende a ser um tiro mais certeiro.

Paralelamente à ofensiva no Supremo, Dilma fará de tudo para reverter o resultado no Senado, onde precisa dos votos da maioria simples dos parlamentares para arquivar a proposta. Se o Senado decidir processá-la, elavai aguardar o julgamento em uma das residências oficiais - no Alvorada ou na Granja do Torto -, e vai se revezar entre Brasília e Porto Alegre, onde moram seus familiares.

Dilma tentou transparecer serenidade nos últimos dias, mas sem esconder a indignação. "Tenho feito tudo o que posso, trabalho 24 horas por dia e as pessoas não entendem que estou sendo vítima de uma grande injustiça", desabafou a presidente em uma das recentes reuniões no Alvorada com Lula e ministros. Mas a tranquilidade aparente não afastou as explosões de fúria que Dilma reserva a assessores em momentos de impaciência. No modelo mais clássico, ela bate as duas mãos com força sobre a mesa e grita se umaprovidência não foi tomada conforme suas orientações.

Segundo auxiliares, nos últimos dias Dilma não estava nem otimista nem pessimista, porque está consciente de que esse embate faz parte da "luta política". Mas está indignada, porque acredita que seus adversários buscaram um atalho para chegar ao poder, já que foram abatidos nas urnas em 2014. A gestão de Michel Temer abrigará o PSDB, do senador Aécio Neves (MG), que ela derrotou nas eleições.

Na reta final, Dilma se apegou a Lula como sua tábua de salvação. Cansado da teimosia e dos erros de sua sucessora, Lula ouviu de Dilma mais de uma vez na reta final: "Não é por mim, é pelo projeto." Lula foi a públicoapresentar-se como fiador do mandato de Dilma e pediu aos deputados que dessem um voto de confiança nele. Lula estava ao lado de Dilma na votação, junto com os ministros mais próximos dela: Jaques Wagner (GabinetePessoal), José Eduardo Cardozo (Advocacia-Geral da União), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e o assessor Giles Azevedo. Também ficaram com ela até o fim os ministros Armando Monteiro (Desenvolvimento,PTB), Antonio Carlos Rodrigues (Transportes, PR), e três do PMDB: Kátia Abreu (Agricultura), Marcelo Castro (Saúde) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia).