Valor econômico, v. 16, n. 3987, 19/04/2016. Brasil, p. A3

Meirelles admite que elevar imposto pode ser necessário

Juliano Basile

O ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles avaliou que o Brasil vai precisar de um aumento de impostos no curto prazo para solucionar as dificuldades nas contas públicas. "Acredito que, talvez, seja necessário, mas claramente temporário", disseMeirelles, após participar de evento organizado pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos com especialistas, no Harvard Club, em Nova York.

Ele não quis especificar o tamanho do aumento nem sobre qual tipo de tributo. "Isso é algo que será proposto pela equipe que vier a assumir", advertiu Meirelles, que está cotado para assumir um cargo num futuro governo do presidente Michel Temer, mas evitou comentar essas especulações. "Eu não comento conversas privadas. Tudo o que é público é anunciado. O que não é público é privado."

Meirelles disse ainda que é preciso simplificar o sistema tributário brasileiro e solucionar a questão da carga de impostos considerada muito alta. "Já estamos com um nível tributário elevado", afirmou. O maior problema, segundo ele, é a complexidade do sistema tributário. "Na medida em que a arrecadação tributária é proporcional ao Produto Interno Bruto (PIB), é importante criarmos um clima de sustentabilidade porque isso sim gera investimento, confiança, crescimento, emprego e renda, o que, em última análise, beneficia os trabalhadores."

Para o ex-presidente do BC, o novo governo terá que necessariamente trabalhar para reduzir a relação entre a dívida pública e o PIB. "Eu não quero limitar a ação da equipe econômica que for apresentar as propostas, independentemente de qualquer governo, mas acho que é importante, sim", enfatizou. "Nós temos condições de sinalizar que, ao longo do tempo, a dívida pública vai parar de crescer em proporção ao PIB e a partir de um certo tempo vai cair. Agora, como se vai chegar lá? Há diversas maneiras", afirmou.

Na avaliação dele, o processo de impeachment sobre a presidente Dilma Rousseff ocorreu por causa de questões fiscais, e não por corrupção, o que mostra que o futuro governo deverá dar atenção a esse tema. "A questão fiscal é importante", ressaltou. Meirelles acredita que, independentemente de quem esteja no poder, terá que dar atenção a esse tema. A questão previdenciária, a rigidez do orçamento e o direcionamento de investimentos são outros temas que devem ser endereçados, diz ele.

Atualmente na Presidência da J&F Investimentos, Meirelles disse que o país pode encontrar o caminho da recuperação do crescimento com medidas a serem aprovadas com forte liderança política. "As questões mais importantes do país podem ser solucionadas por uma forte liderança política."

Na área de política monetária, Meirelles citou a independência do BC, a manutenção de um regime de taxa de câmbio flexível, com "intervenções apenas para eventos de volatilidade excessiva" e a manutenção das reservas internacionais do país como medidas importantes. "A instabilidade política está presente, mas o país pode avançar", disse. "É o momento de olhar para frente e ver o que pode ser feito", insistiu.

 

Meirelles afirmou que, com ajustes e reformas, o PIB brasileiro pode crescer 4%. Sem ajustes, esse número ficaria em 1,2%. O ex-presidente do BC também defendeu que o país abra a sua economia a acordos de comércio internacionais, como foi feito por outros países da América do Sul, como Colômbia, Chile e Peru, e faça reformas estruturais para facilitar investimentos em vários setores. "A regulação do mercado de trabalho também é desafiadora politicamente", completou.