Valor econômico, v. 16, n. 3985, 15/04/2016. Brasil, p. A3

Balança de bens e serviços deve voltar a ter superávit este ano

Por: Marta Watanabe

Por Marta Watanabe | De São Paulo

 

A balança comercial de bens e serviços do primeiro bimestre resultou em superávit de US$ 203 milhões. Em igual período do ano passado, o déficit foi de US$ 12,37 bilhões. Para analistas, a mudança de sinal não deve se restringir ao início do ano. A expectativa para 2016 é que o superávit da balança de bens - aquela que é mensalmente divulgada pelo Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) - cresça e compense o déficit da balança de serviços, cujos dados são contabilizados pelo Banco Central (BC). Isso faria com que a balança comercial total contribua de forma positiva para as transações correntes, algo que não acontece desde 2010. A estimativa é de superávit em bens e serviços para este ano entre US$ 10 bilhões e US$ 15 bilhões.

No primeiro bimestre, o saldo positivo da balança de comércio e serviços resultou de um superávit de US$ 3,51 bilhões em bens e de um déficit de US$ 3,31 bilhões em serviços. Para o ano, José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), projeta saldo positivo de US$ 45 bilhões na balança de bens e um déficit em torno de US$ 30 bilhões para serviços, o que deve resultar em superávit total de US$ 15 bilhões. Em 2015, segundo dados do Banco Central (BC), a balança de bens rendeu saldo positivo de US$ 17,67 bilhões enquanto em serviços o déficit foi de US$ 36,92 bilhões. O saldo das duas balanças foi negativo em US$ 19,25 bilhões.

Para Castro, o saldo da balança de bens será resultado de recuo ainda forte das importações, principalmente por conta da retração econômica, com leve reação dos embarques, com crescimento de 2,5% nos manufaturados na comparação com 2015. Nos básicos, as exportações, em termos de valor, devem empatar com o ano passado ou ter pequena queda.

Na balança de serviços, diz Castro, o que devemos ter este ano é uma redução no déficit, a exemplo do que já aconteceu no ano passado, consolidando a inversão da tendência que essa balança teve desde 2005, com saldos negativos crescentes.

Entre as contas que devem fazer diferença na redução de déficit para este ano, diz Castro, estão transportes e fretes. A menor corrente de comércio de bens, explica, tem reduzido a demanda por esses serviços, gerando menor importação. Segundo dados do Mdic, a corrente de comércio caiu 21,5% no primeiro bimestre, de US$ 57,6 bilhões em 2015 para US$ 45,2 bilhões este ano.

A mudança nos serviços de transportes e fretes já é visível. No primeiro bimestre de 2016, a balança da exportação e importação de serviços de transportes teve déficit de US$ 1,24 bilhão, valor que se reduziu a US$ 385 milhões em igual período deste ano. No mesmo período o saldo negativo em fretes caiu de US$ 553 milhões para US$ 290 milhões.

Somente a redução de déficit nas contas de transportes e frete compensou de sobra a queda de saldo positivo numa das contas que mais geram superávit em serviços e que incluem arquitetura e engenharia. O segmento gerou no primeiro bimestre de 2015 superávit de US$ 2,02 bilhões, saldo que se manteve positivo este ano, mas caiu para US$ 1,73 bilhão.

Rafael Fagundes Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), destaca que, além de menores superávits em transportes e fretes, a redução do saldo negativo também deverá serinfluenciada pelas viagens.

O saldo negativo em viagens recuou de US$ 2,64 bilhões no primeiro bimestre de 2015 para US$ 432 milhões em igual período deste ano. O saldo foi fortemente influenciado pelas despesas que caíram, no período, de US$3,73 bilhões para US$ 1,68 bilhão. "Essa queda reflete não somente a desvalorização do real frente ao dólar, que tornou as viagens ao exterior mais caras, como também à queda de renda resultante da deterioração domercado de trabalho", afirma Cagnin.

Cagnin acredita que a tendência que se desenha atualmente é a de contribuição positiva da balança de bens e serviços na conta de transações correntes este ano. Ele pondera, porém, que isso depende da manutenção dealguns fatores, como o preço do dólar próximo ao nível atual, a R$ 3,50.

Nas contas do economista Fabio Silveira, a balança de bens deve fechar o ano perto de US$ 30 bilhões positivos, enquanto em serviços o déficit deve ficar entre US$ 15 bilhões e US$ 20 bilhões. O superávit das duas balanças, portanto, deve terminar o ano em pelo menos US$ 10 bilhões. "Isso vai contribuir de forma positiva para o déficit em transações correntes, que este ano deve ficar próximo de 1% do PIB quando já chegamos a 4% do PIB. "

"Não se trata, porém, de um superávit de bens e serviços de boa qualidade", afirma Silveira. "O efeito financeiro é indiscutivelmente bom, mas o saldo não resulta de uma reativação das exportações, seja de bens ou serviços, mas principalmente pela redução de importações influenciada em sua maior parte pela queda da demanda doméstica e pela redução de comércio."