Valor econômico, v. 16, n. 3988, 21/04/2016. Especial, p. A14

Armínio diz a Temer que crise é mais 'dramática' do que aparenta

Claudia Safatle

O vice-presidente Michel Temer ouviu, em jantar na segunda-feira em São Paulo com o senador Aécio Neves e Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central, que a situação da economia brasileira é "dramática" e que a gravidade da situação está, de certa forma, camuflada, nas últimas semanas, pelo impacto da melhora do mercado internacional e pela perspectiva do impeachment dapresidente Dilma Rousseff.

O Tesouro Nacional está quebrado, a grande maioria dos Estados está quebrada, a situação da Petrobras é delicadíssima e dos bancos federais, sobretudo Caixa, também. Dificilmente a Petrobras escapará de uma capitalização, apesar da União também estar em situação financeira lamentável.

Isso coloca para o eventual futuro presidente da República grandes desafios que começam pela formação de uma boa equipe econômica e pela definição de uma tática para conduzir as reformas necessárias. De dez propostas de reformas que são consenso entre os economistas, Temer deve escolher umas três ou quatro de efeitos mais imediatos para enviar ao Congresso nos primeiros dias de sua eventual gestão.

Armínio não deve participar do provável novo governo e isso ficou claro na conversa durante o jantar. Temer já sabia das dificuldades do ex-presidente do BC em aceitar o convite para o Ministério da Fazenda. Interlocutores muito próximos ao vice-presidente haviam feito sondagens e foram desestimulados a concretizar o convite.

Outros nomes foram mencionados para ocupar o comando da equipe econômica, como o de Murilo Portugal, atual presidente da Febraban, do senador José Serra e do ex-presidente do BC, Henrique Meirelles. São perfis totalmente distintos, cada um com suas vantagens e desvantagens. Marcos Lisboa, que trabalhou na assessoria de Antônio Palocci no Ministério da Fazenda e hoje está no Insper, seria uma quarta possibilidade, mas já avisou que não aceitaria.

Portugal foi secretário do Tesouro Nacional no governo de Fernando Henrique Cardoso, secretário-executivo da Fazenda nos primeiros anos de Lula e vice-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), além de diretor do Banco Mundial. Seu nome tem o aval de Armínio e o apoio do ex-ministro da Fazenda Delfim Netto.

Serra tem o inconveniente de ser candidato natural à presidência em 2008 e Meirelles é muito identificado com o ex-presidente Lula, dizem políticos próximos ao vice-presidente.

O senador tucano pode ocupar outras pastas no eventual governo Temer, como o Ministério da Saúde ou da Infraestrutura. O primeiro, Serra mesmo vem descartando porque seria um reprise, já que foi ministro da Saúde na gestão de FHC. Fontes próximas ao senador avaliam, ainda, que em meio a uma política de forte ajuste fiscal, não haveria recursos para a pasta da Saúdesuficientes para produzir uma substancial melhora nos serviços oferecidos à população.

Outro nome mencionado para a Saúde é o de Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein.

Na reforma administrativa que está sendo concebida pelo PMDB para reduzir os ministérios de 31 para cerca de 20 ou até menos, as pastas ligadas à infraestrutura - portos, aviação civil, transportes e energia - seriam agregadas em uma só. Para esse cargo cita-se o nome de Serra, que é considerado também um eficiente executor.

Para o Banco Central alguns dos nomes da lista apresentada à equipe de Temer são os dos ex-diretores do BC, Ilan Goldfajn e Mário Mesquita. Luiz Fernando Figueiredo, que foi diretor de Política Monetária do BC, pode ocupar a presidência do Banco do Brasil, mas é um nome possível também para o Banco Central.

O eventual presidente, porém, não escolherá ninguém para a direção dos bancos públicos e do Banco Central sem que o ministro da Fazenda seja consultado antes. Essa é uma área que deve ser integrada e trabalhar na mesma direção, e não ser objeto de divergências como ocorreu nos últimos anos.

Temer afirmou, em breve declaração, que aguardará a decisão do Senado a respeito do impeachment da presidente Dilma Rousseff para se pronunciar. O pemedebista falou por menos de um minuto à imprensa na frente de sua casa, na zona oeste de São Paulo.

"Muito silenciosa e respeitosamente, vou aguardar a decisão do Senado Federal. O Senado Federal é que dá a última palavra sobre essa matéria, portanto seria inadequado que eu dissesse qualquer coisa antes da solução acertada pelo Senado Federal", disse.

 

Ele não respondeu a perguntas sobre a eventual formação de um governo. Passou o dia em seu escritório na capital paulista recebendo aliados. (Colaborou Estevão Taiar, de São Paulo, e Ribamar Oliveira e Thiago Resende, de Brasília)