Valor econômico, v. 16, n. 3978, 06/04/2016. Brasil, p. A5

Vice se licencia da presidência do PMDB e Jucá prega rompimento

Vandson Lima

Lucas Marchesini

Com ataques diretos ao presidente do Congresso Nacional, Renan Calheiros (PMDB-AL), que presidia a sessão do Senado, o presidente em exercício do PMDB, senador Romero Jucá (RR), defendeu ontem o rompimento da sigla com o governo da presidente Dilma Rousseff e a votação do processo do impeachment como saída para a crise política e econômica, ao discursar em plenário.

Jucá assume o posto no lugar do vice-presidente Michel Temer, que ficará licenciado, para resguardá-lo de tentativas do PT e do governo de desgastá-lo, alegou. A decisão foi costurada pela direção nacional do PMDB. "A tentativa do governo e do PT é puxar o presidente Michel para a planície, para participar de uma briga de rua. A gente identificou que os caras estão tentando desqualificá-lo, levar para um embate que ele não pode participar", justificou Jucá, que acusou o governo de negociar promessas de cargos namáquina como se desse um "cheque pré-datado para depois do impeachment" às siglas aliadas.

"A saída é colocar para votar e cada um, claramente, colocar a sua posição", disse. Mesmo se Dilma obtiver a contagem mínima de votos para barrar o impeachment, defendeu Jucá, o governo não conseguirá voltar aos trilhos. Isso só ocorreria com apoio de uma robusta maioria: "Alguém pensar que, ao fazer qualquer estratégia para conseguir 180 votos, talvez 100 a favor e 80 escondidos - que não venham votar -, com isso se resolve no outro dia o problema do país, me desculpe, o problema estará agravado. Quero saber quem é o deputado que vai se sujeitar a se esconder debaixo da cama para não vir votar. O resto de credibilidade do país irá ao chão."

O senador rebateu a tese de Renan de que o desembarque do PMDB da base aliada foi "precipitado" e "pouco inteligente". "Pouco inteligente para quem? É inteligente nós cuidarmos da nossa vida e deixarmos o povo ao léu? Talvez seja a hora de ser pouco inteligente, deixar o interesse pessoal e cuidar do interesse de quem votou em todos nós", atacou.

Apesar de dizer que o PMDB ainda decidirá sua posição no impeachment, Jucá deu indicações a favor da saída de Dilma e fez projeções para um eventual governo Temer. "O governo pegou uma bacia grande, encheu de água, ficou de joelho, botou a cabeça dentro e está morrendo afogado. Se o Brasil se levantar, o Brasil sobrevive. E é isso que o PMDB pretende fazer. O PMDB pretende falar a linguagem do povo brasileiro", disse. "O governo perdeu os três pilares que o país precisa para um mínimo de funcionamento: credibilidade do governo, segurança jurídica e condições de dar previsibilidade à economia", continuou.

Questionado pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ) sobre a falta de respaldo popular de um governo Temer, Jucá rebateu: "Poderá ter um 'fora Michel?' Poderá. Agora, entre o certo e o duvidoso, eu fico com o duvidoso. Hoje, já tem o 'fora Dilma'.

 

Jucá apontou ainda que um futuro governo Temer será alvo de "ataque de setores atrasados, bolivarianos, fundamentalistas. Vão se juntar aí a Venezuela com o Estado Islâmico. Faz parte. É a demanda do atraso contra o futuro", disse, sendo aplaudido por senadores de oposição e ouvindo reclamações de governistas.