Valor econômico, v. 16, n. 3978, 06/04/2016. Política, p. A8

Teori analisa delação premiada de 11 executivos da Andrade Gutierrez

Leandra Peres

Letícia Casado

O ministro Teori Zavascki, relator da operação Lava-Jato no âmbito do Supremo Tribunal Federal, está desde a semana passada com os depoimentos de delação premiada dos 11 executivos da empreiteira Andrade Gutierrez que fizeram acordo de colaboração com a Procuradoria-Geral da República, informou uma fonte ao Valor. Teori recebeu o material na última sexta-feira e deve homologar a delação do grupo nos próximos dias, disse outra fonte.

A delação do grupo da Andrade Gutierrez envolve o ex-presidente da companhia, Otávio Azevedo, e ex-executivos do alto escalão, incluindo Flávio Barra, Antonio Pedro Campello, Elton Negrão e Paulo Roberto Dalmazzo, apurou a reportagem. A companhia acertou pagar multa no valor de R$ 1 bilhão e confessar crimes de corrupção em obras da Copa do Mundo, na Petrobras, nas usinas Angra 3 e Belo Monte e nas obras da Ferrovia Norte-Sul.

Entre os assuntos informados pelos delatores também estão doações em 2014 para a campanha da chapa da presidente Dilma Rousseff (PT) e do vice Michel Temer (PMDB). Outro ponto abordado foram pagamentos de despesas de fornecedores de campanha de Dilma em 2010, como um contrato supostamente fictício no valor de R$ 6 milhões com uma agência de publicidade contratada para atuar no marketing da campanha em redes sociais.

A defesa dos ex-executivos da Andrade Gutierrez informa que não comenta assuntos que correm em segredo de Justiça.

Em março, a revista Veja informou que Otávio Azevedo disse aos procuradores que pagar propina por obras no governo petista era quase "uma regra" e citou ministros em negociações de pagamentos milionários de propina com a empreiteira, além de afirmar que a cúpula de campanhas petistas sabia que dinheiro desviado da Petrobras abastecia as campanhas.

Caso comprovadas as acusações de que a campanha recebeu deliberadamente dinheiro de corrupção, a situação de Dilma e Temer tende a se agravar na ação que corre contra a chapa de 2014 no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Não há prazo para o julgamento no TSE, que ainda não terminou de produzir provas e ouvir testemunhas, mas o plenário deve discutir a ação quando o voto da ministra relatora Maria Thereza Assis estiver pronto.

 

Em outubro de 2015, o Valorantecipou que os ex-executivos, presos em junho, negociavam acordo de delação premiada.