Valor econômico, v. 17, n. 3995, 02/05/2016. Política, p. A9

Rejeição à 'retirada de direitos' marca ato da Força

Por: Tainara Machado / Gustavo Brigatto

 

Com público menor que o de anos anteriores, mas repetindo o coro de "Fora Dilma" e "Fora PT" do ano passado, o evento de comemoração do 1º de maio da Força Sindical, na Zona Norte de São Paulo, marcou posição das centrais contra "retirada de direitos" e reformas que possam "infelicitar" os trabalhadores.

O ato teve pouca adesão de políticos de peso. Michel Temer, aliado político do deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), mais conhecido como Paulinho da Força, foi convidado e não compareceu, assim como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad e ogovernador Geraldo Alckmin. O senador Aécio Neves (PSDB-SP), que ano passado foi exaltado ao subir ao palco nem foi citado na lista de convidados. A senadora Marta Suplicy, possível candidata do PMDB à prefeitura de São Paulo, participou do evento e foi vaiada quando falou.

Paulinho afirmou que Michel Temer garantiu a ele que não serão feitas mudanças nos direitos trabalhistas em um eventual governo do pemedebista. Paulinho e representantes de sindicatos ligados à Força Sindical se reuniram com Temer terça-feira da semana passada. "Ele nos garantiu. Conheço o Temer há mais de 20 anos e ele nunca disse uma coisa e fez outra".

Pessoas próximas a Temer têm sinalizado disposição do vice-presidente em realizar reformas estruturais como resposta à crise econômica. Entre elas, estaria a da Previdência e a flexibilização das leis trabalhistas. Em entrevista recente, Roberto Brant, que formula propostas para a área previdenciária a pedido de Temer, sinalizou reforma do sistema previdenciário brasileiro, com idade mínima para aposentadoria de 65 anos e desvinculação dos benefícios da correção do salário mínimo. "Depois do que ele falou, conversei com o Temer e ele [Brandt] caiu no dia seguinte. Isso mostra que não tem mexida em direitos. Seria uma burrice", afirmou Paulinho.

Paulinho disse ter dito a Temer que já existe um processo de endurecimento das regras de aposentadoria com a fórmula 85/95 proposta pelo governo Dilma em substituição ao fator previdenciário. "A regra é progressiva, em 2026 será 90/100. Ninguém se aposentará com menos de 40 anos de trabalho e 60 anos de idade. Vai mexer em algo que já está ruim? Se mexer, nós queremos que seja pra melhorar", disse. "Não aceitamos que joguem a crise nas costas dos trabalhadores", completou.

"Tem gente que diz que não vai pagar o pato. Nós não vamos pagar a conta", afirmou o presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros (CSB), Antonio Neto, que também esteve com o vice-presidente na semana passada.

Embora se diga otimista com a capacidade de sucesso de Temer na Presidência, Neto avalia que, na montagem de um governo há disputa grande entre forças progressistas e retrógradas, e a CSB quer que Temer tenha equilíbrio. "Se fizer governo de unidade nacional, vai poder contar com nosso apoio. Se fizer como Dilma tem feito, só projetos que infelicitem a classe trabalhadora, aí obviamente também vai ter dificuldades com os movimentos sociais e sindicatos".

A senadora Marta Suplicy reforçou o coro de que a conta da crise atual, gestada pela política econômica da presidente Dilma Rousseff, não pode cair apenas no colo do trabalhador. "Vai ter que ciar no colo de todo mundo", disse ela, para quem Temer terá disposição para sentar com representantes dos sindicatos e das centrais sindicais e negociar eventuais medidas.

Marta e Paulinho criticaram ainda o pacote de bondades anunciado por Dilma no evento da CUT. Para Paulinho, foi um ato de vingança, enquanto Marta classificou o reajuste do Bolsa-Família e da tabela de Imposto de Renda como ato de "desespero".

Cotado para ocupar um ministério no governo Temer, entre eles o da Educação, o deputado federal José Mendonça Bezerra Filho (DEM-PE) também acredita que o vice-presidente terá ampla maioria para aprovar projetos. "O apoio de Michel Temer tem como piso os 367 votos que se posicionaram a favor do impeachment da presidente Dilma, essa é a base. Por isso, o governo precisa de composição ministerial adequada para sedimentar essa base de apoio".

Segundo ele, que desconversou sobre a possibilidade de assumir um posto na Esplanada, é praticamente certo que o Democratas faça parte da base de Temer, depois de mais de 13 anos na oposição. "Não estamos derrubando governo corrupto e que levou Brasil à maior recessão da história para deixar o Brasil à deriva. Temos responsabilidade de ajudar a construir caminhos".

Para ele, é natural que o DEM participe do governo com cargos. "É natural que partido que participa da base aliada participe com quadros. Mas nunca vinculamos apoio ao impeachment a isso", afirmou Mendonça Filho. O deputado também afirmou que o partido defende reformas estruturais, "mas validadas do ponto de vista técnico e político. Pessoalmente, defendo reforma da Previdência, mas é preciso definir qual escopo necessário. A profundidade das mudanças vai depender da avaliação política e econômica".

Indagado sobre a possibilidade de assumir o Ministério do Trabalho, Paulinho disse que "já tem cargo demais" como deputado, presidente da Força e do Solidariedade". Segundo ele, seu partido está negociando dois ministérios, o do Trabalho e o do Desenvolvimento Agrário. As indicações são José Silva, de Minas Gerais e Augusto Coutinho, de Pernambuco.

A Polícia Militar não informou o número de presentes, mas a avaliação de quem já esteve em edições anteriores é que havia menos pessoas que em 2014.

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