Valor econômico, v. 17, n. 4014, 30/05/2016. Política, p. A5

Ministro da Transparência é gravado por Machado

Por: André Guilherme Vieira / Estevão Taiar

 

O ministro da Fiscalização, Transparência e Controle, Fabiano Silveira, reuniu-se na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para discutir com o senador e o ex-presidente da Transpetro, Sergio Machado, estratégias de defesa dos dois em relação às investigações que sofrem na Operação Lava-Jato.

Em conversa gravada no dia 24 de fevereiro por Machado, exibidas ontem no "Fantástico" programa da Rede Globo, Silveira disse que o Ministério Público chegara a um impasse em relação aos inquéritos. "Eles estão perdidos nesta questão", comentou. À época, Silveira era integrante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Durante a reunião, Renan perguntou a Silveira quais as informações que tinha sobre as investigações. Em outra conversa em 11 de março, desta vez apenas entre Renan e Sérgio Machado, os dois comentam que Silveira teria ido à Procuradoria Geral da República para saber se as investigações haviam avançado. Não foram relatados avanços.

De acordo com o "Fantástico", Silveira respondeu em nota que havia estado na casa de Renan "de passagem" e que seu encontro com Machado foi casual.

O envolvimento de Silveira na defesa de Renan e Machado é o segundo percalço dentro do ministério provocado pelas gravações do ex-presidente da Transpetro. Na semana passada, o então ministro do Planejamento Romero Jucá teve que deixar o cargo após seus diálogos serem revelados. O presidente interino Michel Temer permanece poupado. As gravações de Machado o envolveram apenas em um episódio de financiamento eleitoral da campanha para prefeito de São Paulo em 2012, que ele nega.

Hoje em lados opostos, Temer teve em Gabriel Chalita (PDT) a sua principal aposta na eleição para prefeito em 2012. À época, Chalita estava no PMDB e o diretório nacional do partido, presidido por Temer, foi responsável por 85% da receita do candidato na campanha eleitoral.

Chalita, que agora deve ser candidato a vice na chapa do prefeito Fernando Haddad (PT), recebeu repasses partidários de R$ 10,02 milhões segundo a prestação oficial de contas feita pela legenda ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele arrecadou um total de R$ 11,8 milhões, de acordo com os dados oficiais.

Naquele ano o PMDB doou R$ 41,885 milhões para candidatos, o que significa que 24% de todo o dinheiro da legenda repartido no país foi destinado à campanha de Chalita. Este ano, o PMDB deve lançar para a prefeitura em São Paulo a candidatura da senadora Marta Suplicy.

O apoio dado por Temer a Chalita voltou a ser discutido na sexta-feira, com a divulgação de gravações de Machado, anexadas à delação premiada que o ex-executivo fez. Em gravação de conversa mantida com Sarney, Machado diz que fez contribuição a pedido de Temer para a campanha eleitoral de alguém a quem ele se refere como "menino". Segundo investigadores da OperaçãoLava-Jato, trata-se de Chalita.

Temer negou que tenha pedido a Machado doações para Chalita. Hoje secretário municipal da Educação em São Paulo, Chalita afirmou que Temer não teve participação financeira em sua campanha, mas colaborou com "ideias e conselhos".

O presidente interino passou parte do feriado em um condomínio em Ibiúna (SP), com a família. No sábado, retornou a Brasília e recebeu o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes. De acordo com a assessoria de Temer, o encontro foi solicitado pelo próprio Gilmar, a fim de debaterem o orçamento para as eleições municipais.

Hoje Temer irá se encontrar com o procurador geral da República, Rodrigo Janot. No domingo, Temer recebeu o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o secretário do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco.

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