Valor econômico, v. 17, n. 4013, 27/05/2016. Finanças, p. C1

Ações detidas pelo BNDES valem até R$ 56 bi

Por: Por Renato Rostás, Thais Carrança e Camila Maia

 

A valores atuais, o BNDES poderia levantar cerca de R$ 56,2 bilhões se vendesse as participações que detém em companhias de capital aberto, principalmente por meio de seu braço de participações, a BNDESPar. Apesar de a medida enfrentar alguns obstáculos, analistas começam a apostar que essa alienação de ativos seria uma estratégia positiva para a instituição se financiar.

Ações ON e PN da Petrobras poderiam render R$ 21,3 bilhões ao BNDESPar numa eventual venda dessas participações pelobanco de fomento

O montante envolve empresas como Petrobras e Eletrobras, nas quais o banco de fomento possui fatia estratégica por conta do controle da União. Além disso, em alguns casos há acordos de "lock up" - de manter a participação por tempo determinado - e também acordos de acionistas envolvidos. Algumas empresas teriam preferência na compra e a alienação poderia ensejar mudança de controle.

Para o BTG Pactual, a fabricante de celulose Fibria, a geradora de energia AES Tietê, o frigorífico JBS e a fundição Tupy seriam os mais afetados no caso de o BNDES se desfazer de sua posição acionária. A pressão que esse desinvestimento causaria sobre os preços dos papéis seria "imensa", afirma o banco. Fatias grandes como essas teriam de ser vendidas em bloco, não no pregão regular, escrevem Carlos Sequeira e Bernardo Teixeira.

Na carteira do BNDES, o setor com mais relevância é o elétrico. São R$ 7,3 bilhões em valor de mercado, considerando fatias em AES Tietê, Cemig, CPFL Energia, Copel, Eletrobras, Equatorial, Energisa, Light, Renova, Tractebel e Taesa.

Na análise do J.P. Morgan, a Ourofino, de saúde animal, Renova, de energia renovável, e a concessionária de rodovias Triunfo estão entre as empresas cujas ações poderiam ser mais impactadas na hipótese de alienação de uma só vez. O valor de mercado da participação do BNDES nessas companhias é grande demais ante o giro financeiro dos papéis no pregão da BM&FBovespa.

As ações ordinárias da elétrica paranaense Copel seriam muito influenciadas por uma venda, segundo a equipe do analista Pedro Martins Júnior, do J.P., já que o valor de mercado em poder do banco de fomento é 7,9% maior do que o giro em bolsa. No caso dospapéis PNB da empresa, a participação valeria 2,9% do giro diário.

Dentre as participações que poderiam ser vendidas de uma vez sem muitos problemas - abaixo de 2% do volume financeiro -, aparecem CSN, Gerdau ON e PN, Cemig PN, Oi ON, Rumo, Equatorial, EcoRodovias, Tractebel ON, Vale PNA, Suzano PN, Totvs, Taesa, Light, Klabin, Iochpe-Maxion e Braskem PNA. Juntas, renderiam R$ 5,17 bilhões ao banco.

A Petrobras é a empresa que mais poderia render numa potencial venda de ações - R$ 21,34 bilhões somando capital votante e não votante. A JBS aparece com R$ 6,21 bilhões em segundo lugar, seguida pela Fibria, com R$ 5,09 bilhões. A Vale tem peso de R$ 3,79 bilhões na carteira do BNDES, a Eletrobras, R$ 2,16 bilhões, e a AES Tietê, R$ 1,52 bilhão. A instituição ainda tem R$ 1,21 bilhão da CPFL Energia.

"Dada a equipe que está indo para o BNDES, a venda de participações deve ocorrer e é desejável", avalia o professor do Insper Sérgio Lazzarini. Para ele, empresas maduras como Petrobras, Fibria, CPFL e Embraer têm condições de se capitalizar no mercado privado, liberando recursos para investimentos mais relevantes neste momento, como abater a dívida pública.

Além disso, as participações acionárias geram perdas à BNDESPar, cuja carteira tem historicamente desempenho abaixo ao do mercado. Há 12 meses, a soma das fatias que hoje renderia cerca de R$ 56 bilhões aos cofres públicos valia pouco mais de R$ 71 bilhões - a queda de 36% se deve à desvalorização das ações no período.