Valor econômico, v. 17, n. 4013, 27/05/2016. Política, p. A6

Marcelo Odebrecht está próximo de fechar acordo de delação premiada

Por: Letícia Casado / André Guilherme Vieira

 

A delação premiada do empresário Marcelo Odebrecht, motivo de preocupação para políticos do PMDB e do PT, está perto de ser fechada, apurou o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor. Ele e outros ex-executivos do grupo negociam há meses um acordo com procuradores do Ministério Público Federal no Paraná e da Procuradoria-Geral da República que atuam na Operação Lava-Jato. Advogados dos candidatos a delatores vêm participando de reuniões semanais com os responsáveis pelas negociações. Os encontros desta semana estão sendo considerados "definitivos" pelos envolvidos.

Até agora, a negociação já teria avançado para detalhes de temas que serão tratados nos anexos da delação, além de multa a ser aplicada e condição e tamanho da pena a ser cumprida, segundo disse uma fonte ao Valor. Marcelo Odebrecht já cumpre execução provisória de pena de 19 anos e quatro meses e figura como acusado em outros procedimentos. Ele está na cadeia desde 19 de junho do ano passado e busca sair do regime fechado.

Os candidatos a delatores teriam concordado em entregar informações sobre pagamentos de caixa dois em campanhas eleitorais para governos federal e estadual, além de irregularidades em obras no exterior. Os anexos também trariam detalhes sobre o esquema de pagamento de propinas pela Odebrecht em outros países, que contaria com remessas por intermédio de offshores eoperadores com dinheiro vivo, de acordo com fontes ouvidas pela reportagem.

Marcelo Odebrecht também teria detalhado contratos e financiamentos obtidos pela Odebrecht com o BNDES. E ainda reuniões e telefonemas com dirigentes e integrantes da diretoria do banco. Um dos interesses dos investigadores é apurar suspeitas sobre suposta interferência políticas na concessão de crédito, em troca do pagamento de propina a políticos e a partidos.

Outro tema que esteve na mesa de discussão envolvia irregularidades no Judiciário, mas ainda não está claro se o assunto entrará ou não nas delações dos ex-executivos da Odebrecht.

A possibilidade de acordo dos empresários vinculados à Odebrecht com a força-tarefa da Lava-Jato tem tirado o sono do alto escalão do PMDB. Em conversa gravada pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado - que teve delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal na terça-feira -, o ex-presidente José Sarney classifica o potencial da delação de Odebrecht como "metralhadora [de calibre] ponto 100". Ele também relacionou a Odebrecht a um pagamento ao marqueteiro João Santana que a presidente afastada Dilma Rousseff teria pedido diretamente durante campanha eleitoral, cujo ano não determinou. Machado disse que "não há quem resista a Odebrecht". As conversas foram reveladas pelo jornal Folha de S. Paulo e TV Globo.

Em outra gravação, o ex-chefe da Transpetro perguntou ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL): "Mas, Renan, com as informações que você tem, que a Odebrecht vai tacar tiro no peito dela [Dilma], não tem mais jeito". Renan então respondeu: "Tem não, porque vai mostrar as contas".

Valor não conseguiu contato com o advogado Theo Dias, que lidera as negociações em que se busca um acordo para a Odebrecht.

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