Valor econômico, v. 17, n. 4013, 27/05/2016. Política, p. A6

Diálogos com Sarney e Renan atingem Dilma

Por: Estevão Taiar

 

Novas gravações feitas pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, indicam que a presidente afastada Dilma Rousseff pode ter negociado diretamente com Marcelo Odebrecht doações para as suas campanhas. Em uma das gravações, divulgadas pela Rede Globo, o ex-presidente José Sarney afirma a Machado que "quem tratou diretamente [com a Odebrecht] sobre o pagamento do João Santana foi ela". Santana foi o marqueteiro das duas campanhas presidenciais de Dilma e está preso, acusado de ter recebido no exterior quantias não declaradas da empreiteira. Em outra frase polêmica, captada em outra gravação, Sarney reclama do Judiciário. "A ditadura da Justiça está implantada, é a pior de todas", disse.

Em nota, Dilma afirmou que todos os pagamentos a João Santana "foram regularmente contabilizados na prestação de contas aprovadas pelo TSE".

"É curioso que pessoas que estiveram distantes da coordenação da campanha presidencial, de sua tesouraria, possam dar informações de como foram pagos e contabilizados os recursos arrecadados legalmente para a sua realização", diz o comunicado. A assessoria da presidente afastada afirma ainda que a citação ao seu nome "em situações das quais ela nunca participou ou teve qualquer responsabilidade são escusas e direcionadas".

Em outra conversa com Machado, Sarney sugere que ele entre em contato com o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Cesar Rocha, porque ele tem "total acesso" a Teori Zavascki, relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal. Outra pessoa próxima de Teori, segundo Sarney, seria o advogado Eduardo Ferrão.

Outros dois áudios gravados por Machado envolvem novamente o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e colocam o pemedebista em duas frentes da Operação Lava-Jato.

No primeiro, Renan conversa com Vandenbergue dos Santos Sobreira Machado, um antigo lobista da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), e orienta a defesa do ex-senador por Mato Grosso do Sul. Delcídio foi acusado de obstruir as investigações da Lava-Jato.

Renan diz a Vandenbergue que Delcidio deveria escrever uma carta "humilde" aos senadores que analisavam a sua cassação. Vandenbergue responde que Delcidio já escreveu uma carta aos integrantes do Conselho de Ética. Ao Valor, Delcidio confirma que escreveu uma carta, para negar que estivesse ameaçando senadores e diz que o filho de Vandenbergue, Luiz Henrique Sobreira Mendes, advogou para ele no começo do processo. Segundo Delcidio, os contatos com Vandenbergue foram suspensos. "Percebique ele queria me monitorar, era alinhado com Renan", disse.

Em outro áudio, Renan conversa diretamente com Sérgio Machado. Tanto o ex-presidente da Transpetro como o senador chamam o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de "mau caráter" e dizem que os integrandes da força-tarefa da Operação Lava-Jato "se acham os donos do mundo". Machado também afirma que o senador e presidente do PSDB Aécio Neves (MG) é "o cara mais vulnerável do mundo". Renan é curto na sua resposta: "É", disse.

Machado ainda afirma que o presidente do DEM e senador José Agripino Maia (RN) "pode ser parceiro", ao que Renan responde: "O Zé, nós combinamos de botá-lo na roda. Eu disse ao Aécio [Neves, presidente do PSDB e senador por Minas Gerais] e ao [ministro das Relações Exteriores, José] Serra que no próximo encontro a gente tem que botar o Zé Agripino e o [senador do PSB por Pernambuco] Fernando Bezerra".

Após a divulgação dos áudios, Renan afirmou em nota que não tomou nenhuma iniciativa para dificultar ou obstruir as investigações da Lava-Jato ou da Polícia Federal. Já sobre o envolvimento no caso de Delcídio, disse que "o desfecho do processo de cassação é conhecido, foi público e a agilização do processo foi destaque em vários jornais".

Agripino negou ter se encontrado com os políticos citados para influenciar os andamentos da operação. Serra não quis comentar a citação ao seu nome, enquanto a assessoria de Aécio não foi encontrada. (colaboraram César Felício, de São Paulo; e Bruno Peres, de Brasília)

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