Título: Seguranças e indígenas voltam a se enfrentar
Autor: Paranhos, Thaís
Fonte: Correio Braziliense, 14/10/2011, Cidades, p. 27

Estudantes, indígenas e construtoras protagonizaram mais um embate no Setor Noroeste. Na manhã de ontem, apoiadores do Santuário do Pajé tentaram impedir o trabalho dos funcionários da empresa Brasal e das máquinas que limpavam a área para o início das obras. O terreno foi cercado, o que provocou o desentendimento. Os manifestantes alegaram que foram agredidos e ficaram impossibilitados de sair do local por conta da cerca. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) teve de controlar os ânimos.

Decisão de 16 de setembro de 2011 da 11ª Vara do DF negou o pedido de reintegração de posse de uma área de 50 hectares movido pela comunidade indígena Fulni-O Tapuya contra o DF, a empresa Emplavi e o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do DF (Ibram). A área reservada aos indígenas ficou restrita a 4,1815 hectares, delimitada em ação declaratória ajuizada pelos índios. Com base nessa decisão da Justiça, a Brasal optou por iniciar os trabalhos. "Vimos que estávamos balizados. Estamos iniciando uma obra de um prédio em um terreno que é nosso", justificou o diretor da empresa Dilton Junqueira.

Os manifestantes alegaram que a Brasal não tem a emissão de posse para começar a construção. Mas, de acordo com o diretor da empreiteira, esse documento não é necessário porque a empresa tem escritura, memorial de incorporação e alvará de construção. Além disso, o terreno foi adquirido em leilão público da Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap). Os apoiadores do Santuário do Pajé prometem continuar no local e os embates devem prosseguir. "A empresa está cometendo infrações de ordem social e ambiental", alegou o antropólogo Rafael Moreira.

A estudante universitária Camila Xistos, 21 anos, alega ter sido agredida por seguranças do terreno. Segundo ela, o grupo em defesa dos indígenas seguia para o Santuário do Pajé quando avistou as máquinas fazendo a limpeza do terreno. "Um dos nossos amigos entrou na área e bateram nele. Corremos atrás, pedimos para eles pararem. Um dos homens que não estava uniformizado me segurou e me deu um murro no peito", contou. A colega Ana Beatriz Leite, 19, também disse ter sofrido agressões. "Me empurraram pelo pescoço e levei um chute nas costelas. Ainda fizeram chacota quando disse que ia denunciar", lembrou. As duas registraram ocorrência na 2ª Delegacia de Polícia (Asa Norte) e pretendiam fazer exame de corpo de delito. Segundo elas, dois indígenas também apanharam.