Valor econômico, v. 16, n. 3980, 08/04/2016. Brasil, p. A8

Youssef confirmou propina a Cunha, diz relator ao Conselho de Ética

Thiago Resende

Raphael Di Cunto

Delator da Operação Lava-Jato, Leonardo Meirelles disse ontem a parlamentares que o doleiro Alberto Youssef lhe confirmou em um almoço o pagamento de propina de aproximadamente US$ 5 milhões para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Os dois foram sócios. A operação teria ocorrido em 2012, quando Cunha ainda não presidia a Casa.

Em depoimento ao Conselho de Ética, onde tramita um processo contra o pemedebista, Meirelles disse ainda que o doleiro relatou ter sofrido pressão para realizar a transferência. O delator teve que pagar as passagens aéreas com recursos próprios, pois a Mesa Diretora da Câmara, formada por Cunha e aliados, não analisou a tempo o pedido de custeio.

Relator do caso, Marcos Rogério (DEM-RO) acredita que o testemunho foi importante, mas ressalvou que Meirelles "fez alegações indiretas". Mesmo com essa "peculiaridade" e sem provas concretas, o democrata frisou que ainda é o começo das investigações.

Aliados de Cunha e a defesa minimizaram as declarações de Meirelles. "Não apresentou provas", afirmou Marcelo Nobre, advogado do presidente da Câmara. Já integrantes do Conselho favoráveis à cassação de mandato do pemedebista disseram que as informações são robustas.

Valorapurou que essa é a estratégia da cúpula do colegiado: começar com Meirelles e, depois, confirmar a propina em outros depoimentos e com documentação. Segundo fontes, o Banco Central (BC) já encaminhou ao Conselho quase 400 páginas que "complicam" a situação de Cunha. Há inclusive um parecer da Procuradoria do BC relatando que ele tem contas no exterior e que deveriam ser declaradas.

Outro ponto ressaltado é que, apesar de declarar não ter conhecimento de contas de Cunha no exterior, Meirelles afirmou que entregou a investigadores da Lava-Jato documentos, como comprovantes bancários, que corroboram as informações de Youssef e do lobista Júlio Camargo que, em delação premiada, acusam o pemedebista de receber a propina.

O depoimento de ontem terá "peso" junto com demais testemunhos e autos que do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Procuradoria-Geral da República (PGR), disse o relator.

Dando sequência às investigações, Rogério pretende ouvir Júlio Camargo, que teria participado do esquema, além de Fernando Baiano, Ricardo Pernambuco e Ricardo Pernambuco Júnior, que fazem acusações a Cunha. Pode ainda ser convidado o ex-policial federal Jayme "Careca", que, como contou Meirelles, foi responsável pela entrega dos US$ 5 milhões.

Cunha contestou as declarações. Sobre a entrega de dinheiro via o "Careca", ele afirmou que já foi desmentido, tanto é que "sequer foi considerada pela PGR ao fazer a denúncia contra mim."

 

Ele cobrou ainda que o Conselho ficasse restrito à denúncia que foi aceita no parecer de admissibilidade: suposta mentira à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras ao negar ter conta no exterior e ocultação à Receita Federal. Foi retirada do relatório preliminar suposta vantagem indevida envolvendo contratos da estatal.