Valor econômico, v. 16, n. 3980, 08/04/2016. Política, p. A9

Dilma prevê novos vazamentos antes de votação na Câmara

Lucas Marchesini

Bruno Peres

A presidente Dilma Rousseff atacou vazamentos seletivos que segundo ela criam "o clima propício ao golpe", previu novas denúncias nos dias que precederão a votação do seu impeachment na Câmara e propôs princípios básicos para um pacto pela governança no país. Dilma falou em discurso durante o "Encontro com Mulheres em Defesa da Democracia", realizado ontem no Palácio do Planalto como mais um ato de apoio a seu mandato.

Dilma: "Não está escrito que presidente pode sofrer impeachment porque o país passa por dificuldade na economia"

O discurso de Dilma no evento serviu de resposta a diversas reportagens publicadas nos últimos dias, desde texto na revista "IstoÉ" que a comparava com a rainha Maria I, conhecida como "A Louca", até trechos da delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Marques de Azevedo, que alega ter feito doações legais para a campanha de Dilma em 2014 sob forma de propina.

De acordo com a presidente, haverá nos próximos dias "vazamentos seletivos, premeditados e direcionados" de informações sigilosas, em meio ao que definiu como "trama golpista" - relacionada à analise do seu pedido de impeachment pelo Congresso. Na avaliação da presidente, "passou de todos os limites a seleção muito clara de vazamentos no nosso país", e, segundo informou, o ministro da Justiça, Eugênio Aragão, foi acionado para apuração rigorosa sobre vazamentos recentes.

Dilma lembrou que a Constituição garante o direito à privacidade, proibindo vazamentos "com claro objetivo de criar ambiente propício ao golpe", porque, segundo disse, não há necessidade de provar as acusações feitas. "Sempre se aposta na impunidade. Quero destacar que poderemos ter nos próximos dias muitos vazamentos oportunistas e seletivos", disse.

A presidente voltou a insistir na tese de que não há crime de responsabilidade que justifique o pedido de abreviação de seu mandato, afirmando que o regime presidencialista pressupõe a necessidade de base jurídica e política para derrubada de um presidente. Na avaliação da presidente, impeachment, pedido de renúncia ou qualquer outro expediente que comprometa seu mandato é um "golpe de Estado". "Não está escrito que presidente pode sofrer impeachment porque o país passa por dificuldade naeconomia", disse.

Segundo ela, a solução para o impasse político e econômico que vive o Brasil passa por um "grande pacto" com seis premissas: respeito ao resultado das eleições de 2014, fim das pautas bombas no Congresso, unidade pela aprovação de reformas, retomada do crescimento econômico, preservação de todos os direitos e reforma política".

 

"Eu nunca me opus a pactos que podem oferecer saída para situações de crise", revelou, antes de acrescentar que "nenhum pacto ou entendimento prosperará se não tiver como premissa o respeito à legalidade e a democracia". Caso isso não aconteça e o seu impedimento seja consumado, "ficará para sempre nódoa e ameaça para todos". Ela avaliou ainda que o seu impeachment seria "um insulto a todos os eleitores" de 2014. "Não será apenas o governante eleito que será destituído, mas a própria eleição que será desmoralizada". Em relação à reportagem da "IstoÉ", Dilma afirmou que não perde o controle, como alega a matéria. "Me acostumei a lutar por mim e pelos que eu amo. Amo minha família, meu país e meu povo. Sempre lutei, sempre continuarei lutando", disse.