Valor econômico, v. 17, n. 4011, 24/05/2016. Empresas, p. B7

Forças Armadas querem o dobro de medalhas em 2016

Medalhistas criaram polêmica no ano passado ao bater continência no pódio

Por: Robson Sales

 

O número de medalhas conquistadas por atletas militares na Olimpíada do Rio de Janeiro deve definir o futuro do Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR) para o ciclo de 2020, rumo a Olimpíada de Tóquio, no Japão. Após os Jogos, comandantes das Forças Armadas se reunirão para avaliar o desempenho da equipe militar e o tamanho dos incentivos para a formação da delegação nos próximos quatro anos. O objetivo em 2016 é dobrar o número de medalhas conquistadas há quatro anos em Londres, quando os atletas militares saíram com cinco conquistas.

No ano passado, o Ministério do Esporte diminuiu os beneficiários de outro programa federal de incentivo ao atleta profissional. O Palácio do Planalto reduziu em 8,6% o número de benefícios ao Bolsa Atleta no período entre 2014 e 2015. O programa atendeu no ano passado 6.132 atletas — 860 deles no atletismo e 506 na natação, as duas principais modalidades. Os benefícios concedidos pelo Bolsa Atleta vinham crescendo ano a ano. Em 2005, quando foi criado, 975 pessoas receberam o benefício. Segundo a pasta, não houve corte, mas foram estabelecidas “novas regras para concessão do patrocínio”.

O governo se inspirou em países como Rússia e China para incorporar atletas civis às Forças Armadas, 670 homens e mulheres participam do programa militar, criado em 2008 para impulsionar o país nos Jogos Mundiais Militares. Através de um edital, as Forças Armadas escolhem os atletas, classificados por ordem de resultados nas competições oficiais. Somente 76 entraram no programa já como militares de carreira. Normalmente, os atletas entram na carreira militar como terceiro sargento, recebem R$ 6,2 mil e têm contrato válido por no máximo oito anos. Metade dos 670 atletas militares também recebe o Bolsa Atleta.

De acordo com o diretor do Departamento de Desporto Militar do Ministério da Defesa, Pau- lo Zuccaro, a meta é levar cem atletas militares para os Jogos de 2016. Através desse programa, o governo gasta anualmente R$ 15 milhões apenas com salários, outros R$ 3 milhões são investidos no pagamento de viagens, compra de equipamentos e uniformes, entre outros itens destinados ao treinamento.

Ao entrar no Exército, Marinha ou Aeronáutica, o atleta fica dois meses em estágio probatório, recebendo treinamento e aprendendo diretrizes do serviço militar. Eles não estão completamente dispensados de trabalhos burocráticos, embora fiquem a maior parte do tempo dedicados à vida esportiva.

Desde 2005, o Ministério do Esporte investiu cerca de R$ 600 milhões em pagamentos mensais para financiar atletas. Atualmente, 242 atletas de modalidades individuais (olímpicas e paralímpicas) são patrocinados com bolsas que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil.

No ano passado, dos 862 atletas convocados para o Pan-Americano e Parapan-Americano de Toronto, 675 foram apoiados pelos programas do governo federal, o que correspondeu a 78,4% da delegação.

Foi nessa competição em que os medalhistas militares bateram continência no pódio, durante a cerimônia de premiação. O gesto gerou dúvidas se a iniciativa era espontânea ou havia sido um pedido das Forças. Naquele período, alguns protestos de rua pediam intervenção militar como solução da crise política, o que serviu para ampliar o eco da discussão. Medalhistas em diferentes modalidades, como judô, natação e tiro esportivo, entre outros, bateram continência no pódio, uma cena pouco usual na história esportiva brasileira. Zuccaro nega que o gesto tenha sido uma ordem da corporação.

Parte do legado em infraestrutura prometida logo após o Rio ter sido escolhido cidade-sede não será concluída. Dos 22 centros de treinamentos, apenas dez serão entregues antes dos Jogos Olímpicos. Do investimento anunciado para construção da infraestrutura, R$ 450 milhões foram gastos — menos da metade do R$ 1 bilhão prometido pelo ministério.

O Ministério do Esporte, porém, lista outras entregas: investimento de R$ 301,8 milhões para construção de 47 pistas oficiais de atletismo — mas apenas 19 já foram entregues; R$ 881,5 milhões na construção de 246 centros de iniciação ao esporte (CIEs) em 233 municípios; além dos gastos nas arenas para a própria Olimpíada.