Valor econômico, v. 17, n. 4011, 24/05/2016. Política, p. A5

Processo deve ser aberto no Conselho de Ética

Por: Vandson Lima / Thiago Resende

 

O ministro do Planejamento licenciado e senador Romero Jucá (PMDB-RR) terá também que se defender em um processo de cassação do mandato no Conselho de Ética do Senado. O PDT anunciou ontem que será o autor de uma representação no colegiado alegando quebra de decoro parlamentar com base na gravação da conversa entre o pemedebista e o ex-presidente daTranspetro, Sérgio Machado. Além disso, oposicionistas, como PCdoB, pediram que a Procuradoria-Geral da União (PGR) investigue o caso.

Jucá, logo cedo, apresentou sua defesa à imprensa. Mas a lista de senadores que pediam abertamente sua saída do Ministério do Planejamento continuava crescendo.

O colegiado será acionado pelo presidente do PDT, Carlos Lupi; e pelo senador Telmário Mota (PDT-RR), que foi o relator da cassação de Delcídio Amaral (ex-PT-MS). "A fala de Jucá é, sem dúvida, mais grave que a de Delcídio. Delcídio queria proteger um possível delator. Romero quer parar a operação Lava-Jato", afirmou o parlamentar.

Em áudios divulgados ontem pelo jornal "Folha de São Paulo", o pemedebista teria dito que, junto ao impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff, seria construído um pacto para estancar as investigações sobre ilícitos na gestão da Petrobras. A gravação que levou à prisão de Delcídio envolvia uma tentativa de obstrução às apurações e a promessa de uma fuga a Nestor Cerveró, ex-diretor da área internacional da estatal.

Adversário político de Jucá em Roraima, Telmário espera que o Senado também casse o mandato do pemedebista. "Romero foi o grande articulador do impeachment, assumiu o PMDB para dar [ao processo] a celeridade que teve. Ele acha que a Justiça pode fazer pacto para proteger a ele e outros envolvidos até o pescoço em corrupção? Tem que acabar isso", disse.

Ontem, até mesmo senadores favoráveis ao impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff defenderam que Jucá deixasse o ministério. Líder do DEM, o senador Ronaldo Caiado (GO) declarou que essa seria a única forma de não contaminar o governo interino de Michel Temer: "Qualquer denunciado tem a obrigação e o direito de se defender das acusações que recaem sobre ele. Mas esses atos individuais deverão ser tratados longe da administração pública para que a reestruturação e a credibilidade do governo não sejam comprometidas".

Álvaro Dias (PV-PR) disse que, deixando Jucá no Planejamento, "fica transferido para o governo toda a suspeição que pesa sobre ele [o ministro]". O senador votou pela abertura de processo de impeachment de Dilma, mas tem posição independente ao atual governo. Ele pediu ainda que qualquer ministro que seja investigado pela Lava-Jato deixe sua pasta.

Cristovam Buarque (PPS-DF) discursou no mesmo sentido. "Defendo, sim, que o ministro Jucá tenha que sair para explicar essa gravação. Outros suspeitos também. É isso que [representantes do PMDB] diziam quando queriam tirar a Dilma", disse o senador, outro que apoiou a admissibilidade da denúncia contra Dilma.

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