Integrantes da oposição classificaram ontem a revelação de um suposto pacto para deter a Operação Lava-Jato, divulgado em conversa gravada entre o ex-ministro Romero Jucá (PMDB-RR) e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, como "a verdadeira razão" do processo de impeachment contra a presidente afastada Dilma Rousseff. Em evento em Brasília, Dilma Rousseff afirmou que as declarações de Jucá "escancararam" o que chama de "caráter golpista" de seu impeachment e diz que o processo tinha o "real objetivo" de interromper a Lava Jato.

"A gravação mostra o ministro do Planejamento interino, Romero Jucá, defendendo o meu afastamento como parte integrante e fundamental de um pacto que tinha como objetivo interromper as investigações", disse.

O ex-ministro Ricardo Berzoini afirmou que o objetivo do governo Michel Temer (PMDB) é "frear a Lava-Jato" e "empurrar para debaixo do tapete as investigações". Para Berzoini, a revelação dos diálogos "demonstra a verdadeira razão do golpe contra a democracia e contra o mandato de Dilma". "O diálogo não deixa dúvidas. Deixa um pretendente a ser ministro do golpe conversando com uma pessoa que estava sendo investigada tratando de tramar no impeachment a forma de refrear os crimes a ser praticados", disse o ex-ministro, em vídeo divulgado na página de Dilma no Facebook.

Em conversas gravadas em março, Jucá sugeriu a Machado que uma "mudança" no governo resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela Lava-Jato, que investiga os dois políticos. Os diálogos ocorreram semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o impeachment de Dilma.

Para o dirigente do Instituto Lula e ex-ministro Luiz Dulci, as declarações de Jucá demonstram que a suposta promessa de Temer e de seus aliados para barrar as investigações fez com que deputados votassem a favor do impeachment. Dulci afirmou que a "lógica" do voto contra Dilma não tem sintonia com as ruas, mas sim com a perspectiva de ocultar as denúncias. Segundo Dulci, "vai ficando evidente" que foi prometido "aos mais de 200 deputados citados na Lava-Jato que seria abafada" a operação e que "asinvestigações não teriam o mesmo curso".

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, publicou uma foto de Temer e Dilma nas redes sociais com a frase: "Golpe revelado. Jucá confessa: é preciso tirar Dilma para acabar com a Lava-Jato". Com a divulgação da denúncia, a Rede Sustentabilidade voltou a defender novas eleições. (com agências noticiosas)