O globo, n. 30230, 13/05/2016. País, p. 3

MUDANÇA DE COMANDO E DE FILOSOFIA

Presidente interino toma posse com ministério político e fala em ‘salvação nacional’, com estado menor
 

Sem pompa e com algum grau de improviso, o presidente interino da República, Michel Temer, assumiu o cargo, deu posse a seu ministério, e encerrou, ao menos por ora, o ciclo de 13 anos do PT no poder. Agora afastada, a presidente Dilma se despediu do Planalto, horas antes, e vai aguardar por até 180 dias o julgamento definitivo do Senado sobre seu impeachment. No primeiro discurso no posto, Temer manteve o compromisso com os programas sociais de sua antecessora, mas deu sinais claros de que, na economia, fará uma gestão mais austera, com um aceno forte para parcerias com a iniciativa privada. Um ano e quatro meses depois de tomar posse como vice, ao lado de Dilma, Temer assumiu o posto afirmando que é hora de fazer um governo de “salvação nacional", ancorado em um estado mínimo. Defendeu também a Lava-Jato, apesar sete dos ministros que indicou terem sido citados no escândalo. O presidente interino citou Dilma uma única vez, ao garantir que tem por ela “respeito institucional”.

O cenário do Palácio do Planalto era inusitado nas primeiras horas de ontem: gabinetes e corredores vazios, salas sem documentos e sem fotos nas paredes. Pouco depois das 10h da manhã, Dilma foi notificada sobre o afastamento, saiu do Planalto por um acesso lateral e, ao lado de um ex-presidente Lula visivelmente emocionado e abatido, discursou.

— O que mais me dói, neste momento, é a injustiça — disse a presidente afastada, antes de embarcar para Porto Alegre.

No período de isolamento, em que não poderá exercer a Presidência. Dilma terá direito a carro e avião oficial. Manterá também o salário integral.

O Diário Oficial de ontem publicou a exoneração dos ministros de Dilma. Os 23 titulares são indicações de 11 partidos. O Ministério despertou críticas por outra característica: ao ocupar o lugar da primeira mulher eleita para a Presidência, Temer não nomeou uma única ministra. Também não há negros.

No dia seguinte à decisão do Senado, que por 55 votos a 22 sacramentou a abertura do processo de impeachment contra Dilma, protestos pontuais, principalmente contra o impedimento, pipocaram pelo país. Integrantes do MST mantiveram a ocupação da fazenda de um amigo de Temer, no interior de São Paulo.

Com a agenda de seu governo voltada para reformas econômicas, que demandam ajustes severos nas contas, o presidente interino fez um aceno para o Congresso, apelando à necessidade de unidade nacional. Temer assume com uma crise de comando na Câmara dos Deputados. Há um impasse sobre a permanência do presidente interino, Waldir Maranhão, no cargo.

Entre os compromissos do novo presidente, estão as reformas da Previdência e tributária.

A relação com os aliados se apresentou ontem já como mais um desafio entre os muitos que aguardam por Temer. O PSDB, que decidiu na reta final integrar a nova gestão, entrou desconfiando:

— Se não funcionar, a gente cai fora — resumiu o presidente em exercício do PSDB, Fernando Henrique Cardoso.

 

6:34

Por 55 votos a 22, o plenário do Senado decide pela abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. O resultado representa a maioria qualificada que pode, ao final do julgamento, afastar a presidente

 

11:20

No Palácio do Planalto, cerca de meia-hora após ser comunicada do afastamento por 180 dias, Dilma faz um discurso no Salão Leste: "O maior risco para o país neste momento, é ser dirigido por um governo dos sem voto"

 

11:20

Praticamente no mesmo horário, o vice-presidente Michel Temer, no Palácio do Jaburu, recebe a notificação que dá a posse como presidente interino, entregue pelo primeiro-secretário do Senado, Vicentinho Alves (PR-TO)

 

11:50

Ainda do lado de fora, ao lado do ex-presidente Lula, Dilma faz novo discurso: "O que está em jogo são as conquistas dos últimos 13 anos: ganhos das pessoas mais pobres e da classe média"

 

17:29

Após passar a tarde definindo os dois últimos dos 23 ministérios, Michel Temer deixa o Jaburu e vai para o Palácio do Planalto. Ele chega no Salão Leste e dá posse aos novos ministros

 

17:48

Temer faz O primeiro discurso como presidente em exercício. Do lado de fora, manifestantes tentam subir a rampa do Palácio do Planalto que chega ao segundo andar e dá acesso ao Salão Nobre, ao lado do Salão Leste

 

20:00

Temer vai ao TSE para a posse do Gilmar Mendes. É primeiro evento publico dele como presidente em exercício