Correio braziliense, n. 19357, 25/05/2016. Política, p. 3

Calero: "Partido da cultura é a cultura"

O presidente em exercício, Michel Temer, afirmou, na tarde de ontem, que fatos equivocados em dado momento podem gerar fatos positivos em outras ocasiões e exemplificou com a “posse individualizada” e “especial” do ministro da Cultura, Marcelo Calero. “Ao dar posse a Calero, estou homenageando a cultura nacional”, disse. Segundo Temer, os demais ministros tomaram posse de maneira informal e, por isso, a posse de Calero estava sendo registrada de forma individualizada e especial.

O diplomata e ex-secretário de Cultura do Rio havia sido anunciado secretário nacional da Cultura, mas, depois de pressões de artistas e servidores, Temer decidiu voltar atrás e recriar o Ministério.

Temer destacou o perfil de diplomata de Calero e disse que, além de boas referências trazidas pelo ministro da Educação, Mendonça Filho, a quem Calero seria subordinado, a passagem do ministro pela Secretaria de Cultura do Rio foi positiva. “Em sua gestão, ele conseguiu reunificar todo o setor cultural e deu-lhe grande desempenho”, disse. “O Marcelo (Calero) é diplomata e, como todo diplomata, é capaz de fazer uma coisa essencial para o Brasil hoje, que é o diálogo.”

Em seu discurso de posse, Calero afirmou que sua gestão será marcada por um comportamento republicano e que o “partido da cultura é a cultura, não qualquer outro”. “Estaremos sujeitos àquilo que a sociedade brasileira demanda, nunca a um projeto de poder”, afirmou.

Calero disse que os artistas são trabalhadores que tecem os fios que desenvolvem a economia do país e que fazer gestão pública da cultura é ter presente, “antes de mais nada, a pluralidade brasileira”.

O ministro afirmou ainda que zelará pelo fortalecimento institucional e agradeceu a Temer pela recriação da pasta. “Agradeço a Temer por devolver à cultura o espaço elevado à altura de suas atribuições”, afirmou.

O cineasta Cacá Diegues, que compareceu à cerimônia, disse que a posse de Calero era um reconhecimento da classe artística. “Fui o que mais escreveu contra a extinção do Ministério. Vim aqui para celebrar o reconhecimento”, disse. O cineasta destacou o trabalho de Calero no Rio e afirmou que agora é o momento de a classe artística colaborar para que seu trabalho na pasta dê certo. Além de Cacá Diegues, compareceram à posse de Calero, a atriz e diretora Carla Camurati e o ator Odilon Wagner.

No mesmo momento em que Calero tomava posse, militantes que ocupam o Palácio Gustavo Capanema no Rio anunciavam que todas as unidades da Federação estão com escritórios do ministério, da Fundação Nacional de Artes (Funarte) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tomados por militantes contrários ao governo Temer. A ocupação dos prédios começou em Belo Horizonte dois dias após a extinção do MinC. A notícia de sua recriação, no sábado, não mudou a disposição dos ocupantes.

 

Manifesto

“Nossa pauta é nacional. Temos fôlego para continuar as ocupações, disse a atriz e professora Ana Lúcia Pardo, da ocupação do Rio.

O grupo divulgou manifesto se referindo à terça-feira como “uma data histórica para a cultura brasileira”, pela ocupação das 27 unidades da Federação simultaneamente à posse de Calero “como ministro do golpe de Estado na cultura”. “Os artistas e trabalhadores da cultura, cidadãs e cidadãos que permanecem em equipamentos do Ministério da Cultura em todo o Brasil não reconhecem a legitimidade desse autointitulado governo interino.”

 

Frases

“O Marcelo é diplomata e, como todo diplomata, é capaz de fazer uma coisa essencial para o Brasil hoje, que é o diálogo”

Michel Temer, presidente em exercício

 

"Fui o que mais escreveu contra a extinção do Ministério. Vim aqui ara celebrar o reconhecimento”

 

Cacá Dieges, cineasta