Título: A chance dos Brics
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Fonte: Correio Braziliense, 17/10/2011, Opinião, p. 10

O crescimento econômico mais acelerado confere status especial aos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) na conjuntura da crise internacional, possibilitando maior união e, portanto, o fortalecimento político desses países. Este ano, concretizou-se a entrada da nação africana. Outras podem integrar-se ao acrônimo em futuro breve. Na semana que passou, um acordo surgiu para encurtar a distância entre as respectivas bolsas de valores do grupo. Aos poucos, os emergentes vão se impondo, com o peso de US$ 17 trilhões em riquezas próprias (Produto Interno Bruto) e uma população equivalente a quase metade da mundial.

Da margem das grandes decisões internacionais para o centro delas, os Brics ¿ que não se definem como bloco, mas como um fórum ¿ têm perspectiva de rapidamente superar as economias dos Estados Unidos e da União Europeia. Mas carecem de alianças de fato, com acordos concretos entre os membros e negociações efetivas para aparar as muitas arestas. Nesse sentido, a aproximação das bolsas é avanço significativo. Pelo volume de negócios que envolvem, com capitalização estimada em US$ 9 trilhões, mas principalmente pelo encurtamento de distâncias, o entrelaçamento de interesses. Se mantiverem o foco, esses países poderão ¿ e essa precisa ser a meta imediata ¿ pôr sua força política para crescer na intensidade da expansão econômica.

O passo de agora ainda depende de regulamentações, da combinação (em um só) dos diversos índices das variadas bolsas. A complicada operação demanda tempo e somente deve começar a funcionar no primeiro semestre de 2012. Mas mercados acionários trabalham por antecipação e um fato positivo posto no futuro próximo já pode começar a dar resultados. A reação urge, pois os três principais motores dos Brics ¿ China, Brasil e Índia ¿ assistem ao declínio de suas bolsas para níveis próximos aos de 2008, quando a crise financeira global chegou ao auge.

Mais cedo ou mais tarde, o planeta não escapará da realidade imposta pela nova geopolítica e terá de rever seus organismos e mecanismos de controle, aí incluída a regulamentação financeira. Para que os Estados Unidos e a União Europeia não dominem os debates, os emergentes precisam ter voz. E embora Rússia e China façam parte do seleto clube com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, a capacidade real de influenciar decisões globais é limitada às grandes potências.

Bem diferente será uma atuação conjunta dos Brics, que formam polo de respeitável força (cada vez com mais peso no G-20), não esquecendo-se que a economia chinesa é hoje a segunda maior do mundo e que, entre os cinco países, apenas o Brasil e a África do Sul não têm bomba atômica. Mas esses Estados nacionais também precisam fortalecer seus mercados internos, dedicando-se a recuperar com igual força o PIB per capita de cada um deles.