Valor econômico, v. 17, n. 4.010, 23/05/2016. Brasil, p. A2

Serra inicia trocas de postos e Galvão sucede Danese, que vai para Buenos Aires

Por: Daniel Rittner

(Colaborou Assis Moreira)

 

O ministro das Relações Exteriores, José Serra, deu início à troca de comando no Itamaraty e nas principais representações do Brasil no exterior. A dança das cadeiras teve largada com o aval da Argentina, no sábado, à indicação de Sérgio Danese para assumir a embaixada em Buenos Aires. Ele será substituído na secretaria-geral do ministério, posição que ocupava desde janeiro de 2015, pelo embaixador Marcos Galvão, atual chefe da missão brasileira em Genebra e um maiores especialistas do país na área de negociações comerciais.

Marcos Galvão assumirá o segundo posto mais alto do Itamaraty na quarta-feira com a tarefa de acelerar a busca de acordos comerciais. Ele foi chefe da Assessoria Internacional do Ministério da Fazenda, onde tratou de negociações financeiras no G-20, espécie de diretório economico do planeta, e embaixador no Japão. Na OMC, foi peça central para arrancar o acordo para eliminação de subsídios na exportação de produtos agrícolas. O secretário-geral é o principal assessor do ministro e responsável por fazer a máquina do Itamaraty funcionar. Galvão era um dos nomes preferidos do grupo mais próximo do presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), para virar ministro caso o ex-candidato tucano tivesse ganhado as eleições presidenciais de 2014.

Muito respeitado pelos colegas e autor de um livro de referência sobre a diplomacia presidencial, Danese recebeu o “agrément” do governo argentino horas antes da primeira viagem oficial de Serra, que se reunirá hoje com a chanceler Susana Malcorra — anunciada na sexta-feira passada como candidata a secretária-geral das Nações Unidas — e poderá ver o próprio presidente Mauricio Macri na Casa Rosada.

O“agrément”, termo em francês usado para designar pedido de sinal verde que as chancelarias esperam dos países para onde pretendem enviar os representantes antes da indicação formal, também foi solicitado aos Estados Unidos. Serra quer em Washington o diplomata aposentado Sérgio Amaral, que foi porta-voz e ministro do Desenvolvimento no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, conforme antecipou o Valor na semana passada.

Essas indicações exigem um zigue-zague de embaixadores experientes e que ocupam alguns dos principais postos brasileiros no exterior. Luiz Alberto Figueiredo, ex-chanceler no primeiro mandato da presidente afastada Dilma Rousseff e hoje em Washington, deverá ser remanejado para a missão na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), em Viena. O posto é tido como nobre no Itamaraty, mas de pouca importância efetiva para o coração da política externa. Figueiredo, embora tenha tido passagem discreta como ministro, é o “papa” da diplomacia em negociações na área ambiental e teve papel decisivo no acordo climático de Paris.

Outro ex-chanceler a ser reacomodado é Antônio Patriota, hoje representante do Brasil na ONU, em Nova York. Ministro nos três primeiros anos do governo Dilma, ele deixou o comando do Itamara- ty em meio à crise provocada pela fuga do ex-senador boliviano Roger Molina ao Brasil. Um dos destinos possíveis de Patriota, mas ainda não confirmado é Bogotá, onde teria a missão de acompanhar de perto os capítulos finais das negociações de paz entre o governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Ele deve ceder espaço ao último ministro de Dilma no Itamaraty, Mauro Vieira, que conversou pessoalmente com o presidente interino Michel Temer na semana passada.

Vieira, fortemente elogiado no entorno de Temer pela postura institucional que adotou na reta final do processo de admissibilidade do impeachment, manifestou desejo de assumir a representação na ONU. Tudo indica que será contemplado, mas talvez seja preciso esperar até o fim do processo de votação no Senado. Serra foi o único novo ministro a ter recebido o cargo das mãos do antecessor, em cerimônia concorrida, na qual fez questão de agradecer Vieira pela “prestatividade” durante o rápido período de transição.

Everton Vargas, atual embaixador em Buenos Aires, deve ser remanejado para a missão junto à União Europeia. Essa representação cuida dos contatos do país com as autoridades de Bruxelas e exercerá papel crucial se forem adiante as discussões para um acordo de livre comércio com o bloco. Mercosul e UE trocaram ofertas de liberalização comercial no dia 11 de maio e vão negociar com base em propostas concretas de abertura de seus mercados pela primeira vez desde 2004. No entanto, segundo outra fonte, não seria surpresa se ele, que fala alemão, acabasse como embaixador em Viena e Figueiredo em Lisboa.

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