Valor econômico, v. 17, n. 4.010, 23/05/2016. Política, p. A6

Classe política de MG teria bloqueado venda de Furnas

Por: César Felício

 

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que, se dependesse dele, a empresa de geração Furnas Centrais Elétricas teria sido privatizada em seu governo (1995-2002). FHC fez a afirmação ao comentar a existência de um suposto esquema dentro da estatal para arrecadar junto a fornecedores recursos ilícitos para campanhas eleitorais.

A suspeita, levantada por Alberto Youssef e Delcídio do Amaral, delatores da Operação Lava-Jato, fez com que o procurador geral da República, Rodrigo Janot, pedisse ao Supremo Tribunal Federal (STF) inquérito contra o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG). O ministro responsável pelo caso no Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, suspendeu a investigação.

"Minas Gerais toda se unia contra o que eu queria no setor elétrico. O que eu queria era privatizar. Eu nunca consegui", disse o ex-presidente, afirmando que não chegou a conhecer Dimas Toledo, ex-diretor de engenharia da estatal. "Ele era importante. Mas eu nunca o conheci", afirmou o ex-presidente.

Toledo foi nomeado diretor em 1995, primeiro ano do governo FHC. Teria sido uma indicação do PP e, nesta função, teria sido responsável por gerenciar fundos ilícitos para campanhas eleitorais, entre elas a de Aécio, de acordo com informações contidas na delação de Delcídio. "Todos os partidos defendiam que Furnas continuasse estatal. Nunca ouvi falar em roubalheira em Furnas, mas pode ter havido. O controle estatal sempre abre esta possibilidade", disse.

O ex-presidente ressalvou que Aécio "já explicou um milhão de vezes" as circunstâncias em que seu nome foi citado e que já ficou evidenciadas inconsistências no rol de suspeitas que cercam a estatal de energia.

"O que eu quero frisar é que houve uma união da classe política para bloquear mudanças em determinadas estatais. No Nordeste esta união se deu em torno da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) e no Sudeste em Furnas. A privatização só avançou no Sul", afirmou.

Fernando Henrique disse que as acusações de Delcídio de que teria havido irregularidade na contratação pela Petrobras de usinas térmicas durante a crise energética de 2001 não foram confirmadas pela Justiça.

"Não digo que não possa ter havido corrupção na Petrobras, mas de forma isolada. Não havia, nem nunca houve, esquema como o do 'petrolão'. Não havia um esquema de lavagem de dinheiro, por meio de doações legais de campanha, coordenado por tesoureiro de partido", disse.

Senadores relacionados: