Valor econômico, v. 17, n. 4.008, 19/05/2016. Política, p. A10

Aumenta a pressão no PT por negociação com governo Temer

Por: Raymundo Costa

 

Apesar de formalmente considerar ilegítimo o governo provisório de Michel Temer, o PT está dividido sobre a possibilidade de conversar e negociar com o Palácio do Planalto. Um grupo importante do partido entende que é preciso "bordejar" a atual conjuntura, até porque o PT também é governo nos Estados e não tem como escapar de manter relações administrativas com aPresidência da República.

O problema é maior entre os congressistas. O PT teme ficar isolado no Senado e na Câmara dos Deputados. Na eleição para a atual mesa diretora, o partido apresentou candidato próprio, o deputado Arlindo Chinaglia (SP), perdeu e ficou fora da Mesa da Câmara. Os deputados não querem repetir o erro, mas para voltar ao jogo terão de negociar com parlamentares e partidos que apoiaram o "golpe".

Um exemplo prático das dificuldades que enfrenta o PT, ao considerar "ilegítimo" o governo: governadores do partido no Nordeste têm uma pauta para levar ao presidente interino. O governador do Piauí, Wellington Dias, consultou o presidente do PT, Rui Falcão, sobre a melhor forma de proceder. Falcão, que lidera a ala do partido que não quer conversa com o Palácio do Planalto, sugeriu que eles levassem sua agenda ao Congresso e não ao Planalto.

Uma resolução da direção do PT proibiu alianças eleitorais com os parlamentares e os partidos que votaram o impeachment da presidente Dilma Roussef. Decisão difícil de cumprir numa disputa tão pulverizada como a eleição municipal. Tanto que a direção petista já reconhece que terá de analisar eventuais exceções. Mas a regra, em princípio, vale para todas as relações partidárias.

Por mais "ilegítimo" que considere o governo, pelo menos no Congresso o PT pretende entrar no jogo político, para se isolar em discussões como a desvinculação do salário mínimo, a reedição da CPMF e a reforma previdenciária. A ideia é participar das discussões e votar contra medidas que propiciem, por exemplo, a quebra de direitos adquiridos. Ao negociar no Congresso, o PT ao menos pode dizer que não conversa com Temer.

A intenção de negociar é maior no PT do Congresso, mas chamou a atenção do Instituto da Cidadania uma declaração do ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), na qual afirmou não ter nenhuma dificuldade para conversar com Lula e ter certeza de que o ex-presidente, passado o atual momento, dará sua contribuição para o "distensionamento". A declaração foi entendida como um sinal do governo de que está aberto a conversas com a oposição.

Até a votação no Senado do impeachment da presidente, no entanto, a linha que deve prevalecer é a da resolução aprovada na reunião do Diretório Nacional, cujas palavras de ordem são "não ao golpe" e o "Fora Temer". A pressão por algum tipo de aproximação deve recrudescer após o afastamento definitivo de Dilma, segundo espera a atual direção petista. Na realidade, háquem defenda desde já que o partido abandone o "Fora Temer", para facilitar depois a formalização de canais de comunicação com o novo governo.

Na reunião do diretório o PT começou a fazer o balanço do que deu errado, mas essa é uma discussão que somente será aprofundada num congresso extraordinário previsto para depois das eleições municipais, em outubro. É tempo para amainar as recriminações e não fulanizar as discussões. Hoje, por exemplo, procuram-se culpados para a derrocada, sendo mais votados os ex-ministros Aloizio Mercadante e José Eduardo Cardozo.  Petistas bem situados no jogo partidário avaliam que é muito difícil fazerbalanço e auto-crítica no meio da guerra. O PT tem perspectivas para 2018, com a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e precisa analisar com prudência os próximos passos. Uma ideia é trabalhar o campo que se formou sob o guarda-chuva do lema "em defesa da democracia", contra o impeachment de Dilma. Minoritário, é verdade, porém mais amplo que o PT.

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