Valor econômico, v. 17, n. 4.009, 20/05/2016. Política, p. A5

Ex-ministro volta ao governo convencido por caciques tucanos

Por: Maria Cristina Fernandes

 

Antes de receber o primeiro telefonema do presidente interino, Michel Temer, no fim de semana passado, Pedro Parente conversou com o ministro das Relações Exteriores, José Serra, e com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ambos tentaram demover as resistências do ministro-chefe da Casa Civil a voltar ao setor público.

Parente ficou na Casa Civil de 1999 até o fim do governo FHC, em dezembro de 2002. Em fevereiro de 2003 tornou-se vice-presidente do grupo gaúcho de comunicação RBS e lá permaneceu por seis anos. Voltou atrás na decisão de não mais ocupar cargos executivos e, em 2010, assumiu o comando das operações brasileiras da Bunge. Permaneceu como CEO do grupo argentino até 2014. Hoje faz gestão de fortunas e participa do conselho de algumas empresas, entre as quais a BMF&Bovespa.

Ao receber o primeiro telefonema de Temer, que ainda não era portador de convite, Parente informou-lhe que estava de viagem para Nova York, onde prestigiaria o economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central na gestão FHC, homenageado como personalidade do ano na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos. O presidente interino lhe disse que não cancelasse a viagem, conversariam no seu retorno. A todos que o assediaram durante o evento, Parente disse que não havia recebido convite. Era umaquestão de dias. Desembarcou ontem em São Paulo e seguiu para Brasília.

A missão mais espinhosa de Parente no governo FHC foi o manejo da crise de energia decorrente de sucessivas gestões do então PFL no Ministério das Minas e Energia. Seu esforço não evitou que Serra perdesse a disputa presidencial para Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, mas Parente acumulou créditos com o PSDB.

O entusiasmo da cúpula tucana com a missão do ex-ministro decorre do emblema Petrobras para o governo de transição que se inicia. Serra é o autor da lei, sancionada pela presidente afastada Dilma Rousseff, que desobriga a Petrobras de ser a operadora única no pré-sal. A medida era vista no próprio governo petista como condição para a estatal retomar fôlego.

Uma gestão bem-sucedida da Petrobras dará ao grupo que a comandar a chance de demonstrar uma alternativa aos desmandos administrativos no governo petista, tanto pela corrupção quanto pela ruína financeira da empresa. Uma Petrobras saneada é uma indutora de crescimento, principal moeda política de um país que já amarga dois anos de recessão.

A missão, no entanto, não depende apenas dos dotes executivos de Pedro Parente. Especialistas duvidam da capacidade de a empresa pagar suas dívidas sem uma capitalização do Tesouro nacional. O recém-homenageado de Nova York, Armínio Fraga, principal assessor econômico do PSDB na campanha presidencial de 2014, é um deles. Defende uma capitalização da estatal de até R$ 100 bilhões.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já se mostrou contrário a esta capitalização. Além do aumento na dívida de um país quebrado, a capitalização foi refutada pelo ministro com o argumento de que a empresa tem sido capaz de fazer captações no mercado externo.

Meirelles e Serra lideram os mais vistosos polos do governo em exercício. Sua rivalidade apenas fará sentido se a gestão Temer for bem-sucedida. O caminho desse sucesso, ninguém parece discordar, passa pela gestão da Petrobras.