Valor econômico, v. 17, n. 4.009, 20/05/2016. Política, p. A5
Por: Andrea Jubé / Bruno Peres
Indicado para assumir a presidência da Petrobras, o ex-ministro da Casa Civil e do Planejamento Pedro Parente afirmou, em entrevista coletiva ontem à noite no Palácio do Planalto, que não haverá indicação política para a estatal e essa orientação foi determinante para que ele aceitasse o convite para o cargo. Parente relatou que o presidente interino Michel Temer recomendou que a gestão da Petrobras seja "estritamente profissional". O nome dele ainda tem de ser referendado pelo Conselho de Administração da empresa.
"Não foi um processo de aceitação simples, dada a relevância e a responsabilidade que é liderar uma empresa como a Petrobras", afirmou Parente, que ficou conhecido como "gerente de crises", depois de ajudar a contornar o "apagão" de energia de 2001. Parente admitiu que não estava em seus planos assumir a estatal, mas decidiu aceitar o convite diante da "convocação para ajudar a reconstruir o país".
Parente adiantou que não haverá nova auditoria na estatal e que o governo tem interesse em salvar a empresa. "A relação do governo com a Petrobras é de acionista controlador, o seu primeiro interesse é o sucesso da empresa".
Parente afirmou que a orientação de Temer para que não haja "indicações políticas" foi determinante para que ele assumisse a empreitada. Num ato falho, ele chegou a citar o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, mas logo corrigiu para Michel Temer. "Isso ajudou muito na conversa com Fernando..., desculpem o ato falho, com o presidente Michel Temer", corrigiu-se.
Parente disse que poderá "manter" ou "tirar" diretores, que é uma "prerrogativa do presidente executivo" e admitiu que há "grandes desafios, questões relevantes em andamento. Parente reconheceu que o atual presidente Aldemir Bendine vem trabalhando "arduamente" na direção de reconstruir a empresa. "Acabou o tempo onde quem tomava posse desconsiderava o trabalho da gestão anterior", afirmou.
Parente destacou que o trabalho de Bendine ajudará na "continuidade e nos aperfeiçoamentos" que são naturais na mudança de liderança. Ele citou que há um corpo de colaboradores "de excelência" no conselho de administração e na diretoria da empresa.
Integrante do Conselho da BM&F Bovespa, ele disse que pediu a Temer para continuar no cargo, se não houver "conflito de interesses". Ele afirmou que Temer não opôs obstáculos, mas ao final, se o conflito for constatado, ele vai se afastar da atual função.
Sobre o impacto da Lava-Jato na estatal, Parente disse que a comissão de investigação do esquema de corrupção na Petrobras está atuando, com a ex-ministra do STF Ellen Gracie à frente, e "não há novo de novo a fazer em relação a isso".
"Preciso tomar conhecimento da empresa, tive pouca informação nesses dias para poder ter uma impressão final", ressaltou.
Parente apontou o "sucesso recente" do lançamento de bônus no mercado internacional. "É uma questão importantíssima todas as etapas que já foram adotas para encaminhar ou interessar os grandes problemas da empresa".
Ele concluiu afirmando que aós uma reflexão aprofundada, chega neste momento "com plena convicção e decidido a enfrentar de cabeça corpo e alma" o desafio. "Não estou triste, estou consciente da responsabilidade".