Valor econômico, v. 17, n. 4007, 18/05/2016. Brasil, p. A2

Jucá mostra cautela ao falar sobre CPMF e reforma da Previdência

Por: Cristian Klein e Robson Sales

 

Numa demonstração do que tem sido os primeiros movimentos do governo do presidente interino Michel Temer, o ministro do Planejamento, Romero Jucá, deu declarações cautelosas, ontem, no Rio, sobre como o PMDB pretende tirar o país da crise. Assuntos espinhosos, como reforma da Previdência e CPMF, foram tratados sem a audácia de um ajuste ortodoxo, aguardado com a ascensão de Temer no lugar de Dilma Rousseff.

Jucá disse que a criação de novos impostos como a CPMF não é opção para reequilibrar as contas “num primeiro momento”. Mas não descartou a ideia. “A discussão de uma transição para algum tipo de imposto poderá ser necessária. Será dito no momento apropriado pelo comando da equipe econômica que tem no ministro Henrique Meirelles essa ponta de lança”, afirmou, na abertura do 28o Fórum Nacional, organizado pelo exministro do Planejamento, João Paulo dos Reis Velloso, no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

O pemedebista também foi cuidadoso ao falar da reforma da Previdência, que enfrenta resistência. Sabe-se que qualquer presidente tem força para implementar medidas impopulares logo ao chegar ao poder, mas Jucá afirmou que o governo Temer “não concluiu a proposta de reforma da Previdência”. E disse que os direitos de quem já está no mercado de trabalho não serão afetados. O ministro não deu previsão para a conclusão do projeto de reforma, que tem como principal foco a adoção de uma idade mínima, de 65 anos, para a aposentadoria. “No momento adequado serão apresen- tadas propostas exequíveis. Não queremos jogar por terra os direitos dos trabalhadores, mas garanti-los no futuro”, ponderou.

Questionado sobre entrevista do ministro da Saúde, Ricardo Barros, do PP, que defendeu a revisão do tamanho do Sistema Único de Saúde, Romero Jucá não falou em corte de gastos para o setor. “Claro que há subfinanciamenrto do processo do SUS, falta recurso, as tabelas não são reajustadas. Os serviços estão aquém do que deve ser ofertado à sociedade”, disse.

Na mesma manhã, o próprio ministro da Saúde, porém, apressou-se em desdizer as declarações e recuou da ideia de rever o SUS. Barros, em campanha para deputado federal, recebeu doação no valor de R$ 100 mil de Elon Gomes de Almeida, presidente da Aliança, empresa de planos de saúde.

Se medidas que favoreçam a privatização do sistema de saúde ainda não fazem parte, pelo menos abertamente, dos planos de Temer, o fortalecimento do papel da iniciativa privada em outras áreas é considerado um dos pilares do governo. Jucá elogiou a escolha da nova presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos, e disse que a executiva é um nome que poderá contribuir no processo de privatização.

Jucá quer que a instituição — agora de volta ao guarda-chuva do Planejamento — amplie o financiamento de médias e pequenas empresas, para que “possa efetivamente permear um processo de crescimento mais equânime”. Jucá disse que teria uma conversa pessoal com Maria Silvia ontem no Rio. O pemedebista afirmou que o governo quer que o BNDES tenha um papel “ainda mais importante” nas privatizações. Maria Silvia foi uma indicação do presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, e co- mandou a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) logo depois da privatização da empresa. No BNDES, foi assessora especial para assuntos de desestatização.

A escolha de Maria Silvia provocou críticas do presidente da Fundação Perseu Abramo, do PT, Márcio Pochmann, que participava da mesa, ao lado de representantes das fundações do PSB, o ex-governador do Espírito Santo Renato Casagrande, e do PSDB, Aspásia Camargo, além do ministro do STF, Dias Toffoli, do ex-presidente do BNDES, Márcio Fortes, e do economista Raul Velloso. O petista considerou a indicação da executiva um retrocesso. “Se o passado explica alguma coisa, significa que é uma volta aos anos 90”, disse.

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