Título: Sem tevê, sem reforma
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 19/10/2011, Política, p. 6

Proposta do fim das coligações deve ser excluída do projeto de mudança nas regras políticas. Medida prejudica o PSD, que ficaria sem tempo televisivo nas eleições de 2012

Apresentada há algumas semanas como um dos pontos mais adiantados da reforma política, a proposta que prevê o fim das coligações para as eleições proporcionais está com os dias contados. É que, dentro dos partidos, ninguém mais acredita na sua aprovação. O motivo é o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab.

O PSD não deseja a aprovação do texto que acaba com as coligações proporcionais ¿ para eleição de deputados e vereadores ¿ porque não terá tempo de televisão nas próximas eleições. O tempo de tempo é hoje distribuído entre os partidos de acordo com o número de deputados que cada sigla elegeu. Como o PSD ainda não disputou eleição, não tem a prerrogativa.

Diante disso, a forma que a sigla tem de conseguir alguns minutos para exibir seus candidatos na tevê é se coligando a outros partidos já consolidados E, como ninguém quer brigar com o PSD agora ¿ afinal, Kassab diz que sua legenda é independente e acena a possibilidade de aliança com todos ¿, a maioria começa a congelar a proposta de fim dessas coligações proporcionais.

"Infelizmente, esse projeto está inviabilizado. E com o PSD de Kassab, que terá mais de 50 deputados, fica difícil", avalia o deputado Wellington Prado (PT-MG). Ele considera que essa proposta, hoje, não seria aprovada, assim como o voto em lista. "O que escutamos aqui no plenário é que ninguém quer saber desse projeto", afirma.

Prado considera que, dentro do plenário, prevalece hoje a visão de que a reforma política ¿ e o fim das coligações proporcionais, inclusive ¿ será feita para favorecer o PT. "Nada do que é feito para beneficiar um partido essa Casa aceita. Já alertei o relator", diz o petista mineiro, que tem conversado informalmente sobre o assunto com deputados de outras siglas e só ouve posições contrárias à reforma política como um todo.

No PSD, os parlamentares já começaram a se movimentar a fim de evitar que esse texto seja votado e, se for à votação, que acabe derrotado. "Para 2012, felizmente, esse projeto não vai valer", comenta o presidente do PSD de Minas Gerais, Paulo Simão, que ainda aguarda a votação da reforma política no Congresso para saber se vingará para 2014.

Conhecedor dos meandros da Casa, o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) não acredita mais na reforma política: "Ninguém que foi eleito pelo atual sistema vai querer modificá-lo. É sempre bom lembrar que, até agora, o texto foi analisado por uma minoria, numa comissão composta por parlamentares ligados à cúpula dos partidos. Mas, na hora em que a proposta chegar ao plenário, a história será outra. Ali, cada um votará de acordo com a sua consciência e a sua experiência", aposta Marquezelli.