Valor econômico, v. 17, n. 4007, 18/05/2016. Política, p. A8

"O que penso é segredo de Estado", diz ministro

Marcos Pereira afirma ainda não ter diretrizes sobre o que fará

Por: Cristiane Agostine

 

"A indústria é um setor que eu tive pouca afinidade, não obstante eu tenha sido contador de indústria no início da minha carreira", diz o advogado Marcos Pereira, titular do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços. "Fui contador de empresas do ramo industrial, mas não executivo". Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, ex-vice-diretor da Rede Record e professoruniversitário, o novo ministro demonstra pouco conhecimento das necessidades dos setores que representará e assume que ainda não tem diretrizes sobre o que fará no ministério. "O que penso é segredo de Estado. Não comentei ainda nem com os secretários do ministério", diz.

Presidente licenciado do PRB, Pereira afirma que tem conhecimento limitado sobre o que foi feito até agora pela Pasta. Na sexta-feira, pouco depois de assumir o cargo, pediu um levantamento aos secretários do ministério sobre tudo o que foi feito por seu antecessor, o senador Armando Monteiro (PTB-PE). Pediu também um plano de trabalho detalhado, sobre o que é possível fazer nos próximos meses, durante o governo interino de Michel Temer (PMDB). "Estou aguardando para que a gente possa verificar o que vai fazer". Até o fim da semana, os técnicos que compõem a pasta, "muito bem qualificados e bem preparados", diz, devem entregar o levantamento e, dessa forma, mostrar o rumo que o ministério tomará.

Pereira afirma que o déficit estimado pelo governo já passou dos R$ 96 bilhões para R$ 120 bilhões e que, com isso, suas ações poderão ser limitadas. O ministro diz também que todos no governo Temer estão "tomando pé da situação". "Está tudo na base do levantamento, querida. Não é um governo que foi eleito e teve uma transição. Por força da Constituição, é um governo que foi empossado e é interino. É diferente de quando é eleito", diz, pedindo um "voto de confiança". Diferente de outros ministros, afirmaque não pretende fazer "grandes mudanças", mas repete como um mantra que tudo será "feito em consonância com o setor, com o pessoal da indústria, do comércio e da área de serviços".

Pereira minimiza o fato de ter pouca afinidade com o ministério e diz que um bom ministro tem que ter duas qualidades: ser político e gestor. "Eu reúno essas duas qualidades". Como político, fez com que a bancada do PRB crescesse de oito para 21 deputados, entre 2010 e 2014, e atuou nas campanha de Celso Russomanno, para que o deputado ficasse em terceiro lugar na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2012 e recebesse cerca de 1,5 milhão de votos para a Câmara em 2014. Como gestor, diz que atuou em "empresa de serviço e de comércio".

"O trabalho que queremos fazer é de diálogo, ouvir o setor, os industriais, as federações e ser o facilitador do diálogo entre a iniciativa privada e o governo", diz. "Ninguém melhor do que o setor sabe onde ele está e onde ele quer chegar. Ouvindo nós vamos construir um caminho para a indústria sair da situação periclitante em que está e fazer com que possa retomar o crescimento", completa. "Asseguro que não vou falhar porque tenho sido uma pessoa de consenso, que trabalha para pacificar conflitos, interesses diversos."

Pereira assumiu uma Pasta esvaziada, sem o BNDES, a Câmara de Comércio Exterior (Camex) e a Agência de Promoção do Comércio Exterior (Apex) - esta com orçamento de cerca de R$ 590 milhões, mais da metade dos R$ 806 milhões do ministério. O ministro minimiza as perdas e diz que a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), responsável pela operação de comércio exterior e de defesa comercial, está sob seu comando. Pereira tenta resgatar a atribuição de "comércio exterior", que desde que assumiu é apenas "comércio" e negocia para que a secretaria executiva da Camex fique na Pasta e não em Relações Exteriores.

Como "desafios grandes", cita ações para destravar o INPI, que cuida de patentes, e o Inmetro. Questionado sobre temas centrais do ministério, como protecionismo, desconversa. "Tenho várias posições, inclusive uma linha de trabalho que gostaria de implantar, mas é segredo de Estado. Não posso revelar agora porque são ideias preliminares que estão na minha cabeça e não vou externá-las. Preciso submeter ao presidente, conversar com os ministérios e depois conversar com os 'players'. Não vou antecipar".

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