Título: Suspeitas de vazamento
Autor: Dinardo, Ana Carolina
Fonte: Correio Braziliense, 19/10/2011, Economia, p. 9

Não bastasse o estresse com o crise internacional e a inflação doméstica, que não dá sinais de entrar nos trilhos ¿ mesmo para 2013, a média das apostas está acima do centro da meta definida pelo governo, de 4,5% ¿, o Banco Central adicionou, ontem, mais um ruído no mercado. Sem maiores explicações, divulgou uma nota para tentar afastar suspeitas de que dois bancos teriam sabido antes a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de cortar a taxa básica de juros (Selic), de 12,50% para 12% ao ano, no fim de agosto e lucrado uma bolada com isso.

No documento, o BC afirmou que não há qualquer possibilidade de vazamento da taxa de juros antes de ela ser comunicada oficialmente à sociedade. "A meta da taxa Selic somente é discutida em reunião reservada no segundo dia e fixada por maioria de votos dos membros do Copom, colegiado composto pelo presidente e pelos diretores do Banco Central. A decisão é imediatamente informada a toda a sociedade, por meio de nota publicada no sítio do BC na internet e no Sistema de Informações do banco (Sisbacen). Assim, não é possível o conhecimento prévio da decisão", informou a nota.

Demissão Essa foi a primeira vez que o BC veio a público defender a credibilidade do processo de formação e de decisão da taxa básica da economia. E isso às vésperas da penúltima reunião do ano do Copom, aguardada com ansiedade pelo governo e pelo mercado, que aposta em queda da Selic entre 0,5 e um ponto percentual. "Foi desnecessário", avaliou um economista, convicto de que, tecnicamente, não há como vazar uma decisão que é tomada por um grupo pequeno de pessoas, composto, além do presidente e dos seis diretores do BC, do chefe do Departamento de Estudos e Pesquisas da instituição, que não tem poder de voto. Os juro são definidos a portas fechadas e é divulgada ao fim de um encontro no qual quem está não sai, celular é proibido e não é servido nem cafezinho.

O motivo da nota do BC foi a boataria que tomou conta do mercado desde a sexta-feira passada, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) confirmou que estava investigando movimentos atípicos no mercado futuro de juros em 31 de agosto, justamente o dia em que o Copom formalizou o corte de 0,5 ponto da taxa Selic. Levantaram-se suspeitas de uso de informação privilegiada (insider information), o que é considerado crime. Os rumores coincidiram com a demissão de uma motorista do Ministério da Fazenda, que teria passado adiante informação do ministro Guido Mantega de que a Selic cairia substancialmente.