Valor econômico, v. 17, n. 4004, 13/05/2016. Política, p. A7

Escolha no GSI mantém dinastia familiar

Filho e neto de militares, Sérgio Etchegoyen assume pasta com missão de reestruturar setor de inteligência

Por: Fernando Taquari, Robson Sales, Rafael Rosas e Rodrigo Carro

 

A escolha do general do Exército Sérgio Etchegoyen para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), que volta a ter status ministerial, representa a continuidade de uma dinastia familiar que desde a década de 30 ocupa postos-chave nas Forças Armadas. Neto, filho e sobrinho de generais, Sérgio Etchegoyen chefiava há um ano e dois meses o Estado Maior do Exército, até ser convidado, na semana passada, pelo presidente interino Michel Temer para assumir a pasta.

A despeito da influência da família, o novo ministro do GSI chegou ao primeiro escalão do governo pelas mãos do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim, com quem trabalhou como assessor especial e chefe do Núcleo de Implantação da Estratégia Nacional de Defesa no governo Luiz Inácio Lula da Silva, e do comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, seu amigo de infância e que tem sido nos últimos tempos um interlocutor de Temer junto às Forças Armadas.

Na nova função, Etchegoyen ficará responsável por reestruturar o setor de inteligência do GSI, após as críticas de militares de que Dilma promoveu uma desordem na área. A necessidade de aprimorar o sistema de inteligência, no momento em que o país se prepara para sediar a Olimpíada, foi uma das razões alegadas por Temer aos interlocutores para justificar a decisão de voltar o status ministerial para a pasta.

Conhecido por colegas de farda por ser um militar que nunca se esquivou de deixar claro suas posições, o novo ministro é visto por colegas como um oficial exemplar" e "meio de direita". "Trata-se de uma pessoa de caráter ilibado e que tem conhecimento profundo das áreas militar e política", disse um contemporâneo da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), onde Etchegoyen se formou em 1974 na arma de cavalaria.

Colegas acreditam que o trabalho de Etchegoyen no GSI deverá ser pautado em "fazer cumprir o que é legal". Etchegoyen é elogiado no meio militar pela sua atuação na chefia do Estado-Maior do Exército. Entre as atribuições da função está receber os recém promovidos a general e discursar na cerimônia de entrega da espada aos militares que chegam à mais alta patente doExército. Esses discursos são considerados "muito bons" por militares, que dizem que as palavras de Etchegoyen tem "caracterizado a importância de fazer as coisas de maneira correta".

Em discurso escrito para cerimônia de entrega de espadas a generais em dezembro, por exemplo, Etchegoyen cita que a espada dos generais "tem estado vigilante, sempre ao lado do nosso povo, na defesa da democracia e das instituições", dando proteção contra "aventuras, aventureiros ou radicalizações descabidas que tentem conduzir-nos a rupturas sociais pela manipulação que transforma divergências em ódio".

Antes de trabalhar com Jobim, Etchegoyen foi oficial do Estado-Maior da Missão de Verificação das Nações Unidas em El Salvador, entre 1991 e 1992, e chefe da Comissão do Exército Brasileiro em Washington, de 2001 a 2003. Como oficial-superior foi comandante da Escola de Aperfeiçoamento de Sargentos das Armas (EASA), de 1993 a 1996, assistente-secretário do Ministro do Exército e do Comandante do Exército (1997 a 2000) e chefe da Primeira Assessoria do Gabinete do Comandante do Exército (2003 e 2004).

Nascido em 1952, em Cruz Alta (RS), Etchegoyen ao longo de sua carreira protagonizou algumas polêmicas ao defender o legado da família. Em 2014, divulgou uma nota dura contra o relatório da Comissão Nacional da Verdade. Etchegoyen protestou contra a inclusão de seu pai, o general Léo Guedes Etchegoyen, na lista de 377 agentes do Estado que praticaram crimes na ditadura.