Valor econômico, v. 17, n. 3999, 06/05/2016. Política, p. A7

"Antes tarde do que nunca", diz Dilma Rousseff

Por: Arthur Serra Massuda

 

"Antes tarde do que nunca". Foi assim que a presidente Dilma Rousseff comentou ontem a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de afastar Eduardo Cunha (PMDB-RJ) do mandato como deputado federal e, dessa forma, da presidência da Câmara. Ao discursar na cerimônia de início da operação comercial da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, em Vitória do Xingu, no Pará, Dilma afirmou que a base do impeachment "foi uma chantagem" de Cunha e disse lamentar o fato de o pemedebista ter comandado o processo contra ela na Câmara.

"Esse impeachment é um claro desvio de poder, porque ele [Cunha] usa seu cargo para se vingar de nós, porque nós não nos curvamos às chantagens dele", disse a presidente. "A única coisa que eu lamento, mas eu falo, antes tarde do que nunca, é que infelizmente ele conseguiu (...) presidir, na cara de pau, o processo na Câmara", afirmou, em Vitória do Xingu.

Mais tarde, em Santarém (Pará), ao participar da entrega de unidades habitacionais para beneficiários do Minha Casa, Minha Vida na cidade e mais quatro municípios por transmissão ao vivo, a presidente defendeu a tese de que está acontecendo uma "eleição indireta com roupa de impeachment". Dilma classificou o vice-presidente Michel Temer (PMDB) como "usurpador de mandato" e voltou a afirmar que o pemedebista deve cortar o benefício do Bolsa Família de 36 milhões de pessoas.

"Não adianta encurtar o caminho do poder. Tem que ter voto", afirmou a presidente. "Chamo isso de golpe, porque, é fato que o impeachment faz parte da Constituição, mas é preciso crime de responsabilidade. Não cometi crime nenhum", disse.

Dilma defendeu o uso dos decretos suplementares, que baseiam o pedido de impeachment: "Não estou sendo acusada de beneficiar a mim ou alguém do meu governo. Mas de fazer o que todos os outros presidentes já fizeram. Na minha vez querem fazer que vire crime? Por isso temos falado que é um golpe contra a democracia no Brasil."

Dilma citou programas como Minha Casa, Minha Vida, Bolsa Família, Mais Médicos, Pronatec, Prouni e Fies para destacar a importância de um governo "a favor do povo e daqueles que mais precisam".

Considerando-se vítima de uma injustiça, pediu mobilização. "Isso não vai me desmobilizar. Não vou ficar parada vendo o ônibus passar. Vou lutar pelo meu mandato, porque tenho responsabilidade com a democracia do meu país."

O evento em Santarém foi transmitido simultaneamente para Camaçari (BA), Uberaba (MG) e Itapipoca (CE) e marcou a entrega simultânea de 6.597 casas.

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