Valor econômico, v. 17, n. 3999, 06/05/2016. Política, p. A7

Temer recua de ideia de extinguir Desenvolvimento

Por: Daniel Rittner, Thiago Resende e Raphael Di Cunto

 

A atuação pesada dos empresários parece ter surtido efeito: o vice-presidente, Michel Temer, recuou de sua ideia original e está bastante inclinado a manter o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Segundo auxiliares do vice, o senador José Serra (PSDB-SP) já foi avisado de que o Itamaraty não deverá mais ser turbinado com a área comercial, mas ainda estaria disposto a atuar como chanceler de um eventual governo Temer. A pressão exercida pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, teria sido crucial na desistência de extinguir o Desenvolvimento.

O MDIC, sigla pela qual a pasta é conhecida, pode ser oferecido aos tucanos. Um dos cotados é o senador Tasso Jereissati (CE).

As entidades industriais tentaram demonstrar a Temer que havia dificuldades até de ordem burocrática para a transferência de atribuições. O Desenvolvimento tem mais de 300 servidores na carreira de analista de comércio exterior, com estrutura e salários diferentes da diplomacia. Também houve um esforço para enfatizar que questões tributárias, de financiamento e defesa comercial não se encaixam no perfil do Itamaraty. Associações como Abimaq (máquinas), Abinee (eletroeletrônicos) e Abit (têxteis) participaram da ofensiva para convencer o vice-presidente.

Líder do PMDB na Câmara, o deputado federal Leonardo Picciani (RJ) não descarta mais a possibilidade de assumir o Ministério do Esporte. Até anteontem à noite, a tendência, segundo aliados, era de o pemedebista aceitar o convite do grupo de Temer. Ele procuraria o aval da bancada.

Ontem, contudo, Picciani preferia a cautela. Com o afastamento de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o líder almeja a presidência da Câmara. Diante desse novo cenário, Picciani ainda vai analisar seu futuro. "Agora, ele [Picciani] voltou para o jogo", nas palavras de um deputado próximo de Picciani, que não esconde a intenção de comandar os trabalhos da Casa e já planejou concorrer ao cargo no próximo ano.

Cunha pode perder o mandato, o que levaria a nova eleição para presidente da Câmara. E, mesmo com Cunha apenas afastado, o que não levaria a novo pleito, Picciani poderia ter mais chances na votação de 2017 para a Mesa Diretora da Casa, pois o correligionário já articulava um sucessor.

Quando praticamente já tinha batido o martelo e aceitaria o convite ao Ministério do Esporte, Picciani e parte da bancada avaliavam que seria importante ter um político do Rio de Janeiro na pasta em ano de Olimpíada.

Pemedebistas diziam ainda que não haveria outro nome para o cargo. Picciani iria consultar a bancada. Mas a tendência seria o grupo aceitar a indicação dele para o ministério. A oferta a Picciani é, na visão de alguns deputados, uma tentativa do vice-presidente Michel Temer (PMDB) de tirá-lo discretamente da liderança do partido. Aliados de Temer disseram a ele que seria "muito bem aceito" no governo. Picciani foi um dos poucos pemedebistas que votaram contra a abertura de processo de impeachment dapresidente Dilma Rousseff.

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