Título: China diminui o ritmo
Autor: Ribas, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 19/10/2011, Economia, p. 12

Crescimento da segunda maior economia mundial desacelera para 9,1% no terceiro trimestre e reforça temores de recessão global

A China reforçou ontem os receios de uma recessão global ao anunciar a desaceleração no seu ritmo de crescimento. O Produto Interno Bruto (PIB) da segunda maior economia do mundo avançou 9,1% de julho a setembro em relação a igual período de 2010. O arrefecimento na trajetória de expansão veio após as marcas de 9,5% no segundo trimestre do ano e de 9,7% no primeiro. Trata-se do menor patamar de expansão desde o terceiro trimestre de 2009, um reflexo evidente da crise econômica na Europa e nos Estados Unidos.

O percentual anunciado pelo Gabinete Nacional de Estatísticas da China ficou pouco abaixo de projeções de economistas, mas foi suficiente para ampliar o pessimismo de investidores do mercado financeiro. O pregão da Bolsa de Xangai caiu 2,33%. Nem mesmo indicadores domésticos positivos, também divulgados ontem por Pequim, contiveram o mau humor. Em setembro, as vendas no varejo chinês subiram 17,7% diante igual mês de 2010 e a produção industrial, 13,8%.

Até agora, o maior impacto dos sinais de acomodação da locomotiva chinesa está nas cotações de commodities minerais. O preço do minério de ferro no mercado à vista local recuou ontem para US$ 150 a tonelada, US$ 7 a menos que na sexta-feira. A tendência de queda começou na semana passada, quando mineradoras lideradas pela Vale já tinham dado descontos, levando o preço à vista ao menor nível em 11 meses, abaixo de US$ 160.

Suspensão Segundo especialistas, o novo recuo do preço do minério à vista na China reflete as perspectivas de uma queda na demanda futura por aço. Enquanto o mercado chinês, que absorve 65% das exportações mundiais de minério de ferro, ainda segue a regra de fixar o preço pela média do trimestre anterior, analistas temem a suspensão de compras por pequenas e médias siderúrgicas em razão de restrições ao crédito e até o desligamento temporário de fornos.

As grandes siderúrgicas se ressentem das projeções e, sobretudo, da queda das cotações do aço, o que as levou a rejeitar pagar US$ 175 a tonelada do minério, como previa a regra trimestral. O pânico dos fornecedores está no uso dos estoques de minério de ferro dos principais clientes. As cotações recordes das matérias-primas, fruto de demanda elevada e especulação nos mercados futuros, ajudam o comércio do Brasil, mas se tornaram a pior fonte de inflação na China, hoje ao ritmo de 6,5%.

Os primeiros sinais de desaquecimento econômico da China levaram o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, a declarar publicamente sua preocupação. Os sinais de alarme emitidos pelo maior parceiro comercial do Brasil se intensificaram na semana passada. O superavit comercial chinês recuou em setembro, pelo segundo mês seguido, para US$ 14,5 bilhões, 18,3% menos que os US$ 17,8 bilhões de agosto e bem abaixo dos US$ 31,5 bilhões de julho. As exportações totais do país cresceram 17,1% em setembro ante avanço de 24,5% em agosto. As importações, por sua vez, aumentaram 20,9% ante 30,2% no mês anterior.

MINÉRIO DE FERRO EM QUEDA A Vale, maior exportadora mundial de minério de ferro, admite aceitar novas formas de negociação da commodity com seus principais clientes, buscando se ajustar à piora no mercado em tempos de crise global. O presidente da mineradora, Murilo Ferreira, confirmou ontem que a empresa tem fechado negócios sem considerar a fórmula de reajustes trimestrais criada há pouco tempo, em substituição ao sistema anual que durou 40 anos. "Alguns clientes querem comprar de outra forma e isso será feito, mas a fórmula trimestral continua", afirmou. As expectativas de queda na demanda de países desenvolvidos e a desaceleração da economia chinesa já derrubaram os preços em 15% desde setembro.