Título: Soldado apresenta lista de testemunhas
Autor: Jeronimo, Josie; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Correio Braziliense, 20/10/2011, Política, p. 2

Autor das denúncias contra o ministro Orlando Silva presta depoimento na Polícia Federal

Depois de mais de oito horas de depoimento, o soldado da Polícia Militar João Dias Ferreira repetiu na Polícia Federal as denúncias que fez contra o ministro do Esporte, Orlando Silva. O PM chegou às 15h de ontem na PF trazendo nas mãos uma pequena sacola. Às 23h30, o militar disse na saída do depoimento que apresentou o nome de 15 a 20 pessoas que podem ser ouvidas pelos investigadores e, segundo ele, têm informações sobre o esquema montado para desvio de verbas do programa Segundo Tempo.

O PM informou ainda que voltará à PF na próxima segunda-feira, quando ficará pronta a degravação de uma fita que "está sendo periciada" em São Paulo. Perguntado se tinha feito alguma denúncia contra Agnelo Queiroz, o soldado afirmou não ter provas de que o governador do DF sabia do esquema quando comandava o Ministério do Esporte. Apresentou à imprensa também trechos de duas gravações que, segundo ele, teriam dado origem à Operação Shaolin, da Polícia Civil do DF, que investigou um suposto esquema de desvio no Programa Segundo Tempo.

Ao chegar para o depoimento, às 15h, Ferreira pouco falou com a imprensa, mas afirmou que a Justiça tinha liberado para o seu advogado algum material apreendido durante a Operação Shaolin.

Conforme o militar, nesse material que teria sido apreendido em sua casa, haveria provas cabais das acusações contra o ministro do Esporte. O soldado da PM, porém, não detalhou o teor. Dentro do prédio da Superintendência da PF, ele teria entregado gravações da operação da Polícia Civil. O depoimento de Ferreira ocorreu em dois momentos. No primeiro, ele falou para os delegados por cerca de três horas. Após esse período, a assessoria da PF chegou a orientar os jornalistas para uma possível entrevista que o PM daria após o término de sua inquirição. No entanto, a coletiva acabou cancelada porque os delegados avaliaram que, em razão do surgimento de fatos novos, o militar deveria ser interrogado por um período maior na superintendência.

Proteção Não foi a primeira vez que o soldado da PM esteve na PF nesta semana. Na última segunda-feira, ele conversou com os delegados Jackson Rosales e Fernando Souza Oliveira ¿ os mesmos que tomaram seu depoimento ontem ¿, mas não chegou a ser inquirido. Na ocasião, combinou de fazer os esclarecimentos no dia seguinte, o que também não ocorreu em razão de ele alegar que não estava bem de saúde. No mesmo dia, reuniu-se no Congresso com integrantes da oposição.

A Polícia Federal ainda não sabe se abrirá inquérito para apurar as denúncias de João Dias Ferreira, já que existe uma apuração semelhante, originada pela Operação Shaolin. Nesse caso, a investigação em torno das declarações de Ferreira será apensada ao inquérito em andamento, que corre em segredo de Justiça. Outra dúvida da PF é com quem ficará a responsabilidade de continuar com o caso, que poderá ser remetido para a sede da corporação, onde fatos envolvendo autoridades são tratados.

Até ontem, a PF não sabia se José Dias Ferreira iria contar com proteção especial, conforme pediu o PSDB, na terça-feira. Na chegada à Superintendência da PF, o militar não falou sobre o assunto. Segundo o Ministério da Justiça, cabe ao próprio militar fazer a requisição, que seria concedida imediatamente.