Correio braziliense, n. 19352, 20/05/2016. Política, p. 4

Deputadas na bronca com Dilma

Naira Trindade

Após criar um imbróglio ao manter uma Esplanada sem representatividade feminina, o presidente em exercício, Michel Temer, sinalizou a criação de um ministério, no futuro, para nomear uma mulher para o primeiro escalão do governo. Em encontro ontem com cerca de 20 deputadas da bancada feminina da Câmara, no Palácio do Planalto, as congressistas cobraram também “apoio” da base política de Temer para eleger uma mulher para a Presidência da Casa.

A ausência de mulheres no primeiro escalão acabou minimizada pelo presidente em exercício, que garantiu não haver retrocessos ou paralisações em políticas e iniciativas de gênero. Parte da bancada criticou o fato de a primeira presidente mulher do país “ter se fechado ao diálogo com a bancada feminina da Câmara”. “Nós tínhamos uma presidente, mas que nunca nos recebia e não estava disponível ao diálogo”, criticou a deputada federal Rosângela Gomes (PRB-RJ).

As parlamentares se queixaram de que a presidente afastada, Dilma Rousseff, não conversava com o Congresso. Articuladores políticos analisam que um dos motivos que corroboraram com a admissibilidade do impeachment da presidente se deu justamente pela ausência de diálogo entre os dois poderes: Legislativo com o Executivo. “No futuro, assim que a economia der uma equilibrada, ele prometeu criar um ministério de política para mulheres, idosos, portadores de deficiência física”, disse Rosângela.

Crítica do governo Dilma Rousseff, Rosângela afirmou ao presidente em exercício que houve um retrocesso em não colocar mulheres à frente de ministérios. Para “tentar corrigir” o impasse, as congressistas sugeriram a Temer que convença a base de 305 deputados a apoiar a indicação de uma deputada para a presidência. “Temer disse que não tem condições de apoiar isso, mas que podemos encontrar um nome de consenso”, contou a deputada, após duas horas de reunião.

 

Assinaturas

A deputada federal Josi Nunes (PMDB-TO) informou que a bancada recolhe assinaturas de apoio para a indicação da presidente do PMDB Mulher, Fátima Pelaes, para a Secretaria de Política para as Mulheres, vinculada ao Ministério da Justiça. “Temer deixou claro que haverá a formação de um novo ministério, um pouco mais à frente, para trabalhar nesta questão da mulher”, disse Josi.

Na quarta-feira, antes de definir por Marcelo Calero para a Secretaria Nacional de Cultura, Temer tentou emplacar uma mulher à frente da pasta. Pelo menos cinco mulheres foram sondadas a ocupar a vaga, como a consultora de projetos culturais e coordenadora de curso de pós-graduação da Fundação Getulio Vargas, Eliane Costa; a antropóloga Cláudia Leitão; a atriz Bruna Lombardi; a cantora Daniela Mercury; e a jornalista e apresentadora Marília Gabriela.

Sem sucesso, o presidente em exercício optou pelo diplomata, que estava à frente da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, que também presidiu o Comitê Rio 450. Calero é ligado ao prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB-RJ).

 

Apoio de Regina Duarte

A atriz Regina Duarte tomou o caminho oposto da classe artística e declarou apoio a Michel Temer na decisão de incorporar o Ministério da Cultura ao da Educação. Em texto publicado no Instagram, ela disse que “se o país está ‘em coma’, não entendo a insistência no autoengano de achar que a Cultura pode se safar, sadia, do desconserto geral que nos abateu”. Para a atriz de 69 anos, “na teoria (linda!) a prática é outra (dolorida). Sou a favor da ideia de manter a Cultura internada no ‘Hospitall’ da Educação. Depois da possibilidade de ‘alta’, vamos ver o que pode ser melhor pra ela e pra todos nós, brasileiros”.

 

Frase

"Nós tínhamos uma presidente, mas que nunca nos recebia e não estava disponível ao diálogo”

 

Rosângela Gomes (PRB-RJ), deputada