Valor econômico, v. 17, n. 3998, 05/05/2016. Política, p. A8

Aécio pode ser alvo de delação de executivo

Por: Letícia Casado

Por Letícia Casado | De Brasília

 

O ex-presidente da OAS José Adelmário Pinheiro Filho (conhecido como Léo Pinheiro) teria mencionado em proposta de delação premiada um suposto pagamento de propina ao ex-governador de Minas, senador Aécio Neves (PSDB), na obra para construção da Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, segundo relato de fontes ouvidas pelo Valor. Leo Pinheiro negocia acordo de colaboração com a Procuradoria-Geral da República (PGR) na Operação Lava-Jato.

O executivo ainda não está prestando depoimentos, apurou o Valor. Ou seja, ainda está na fase de apresentar o que tem aos procuradores para tentar chegar a um acordo. A intenção de Pinheiro em mencionar a obra em Minas teria sido manifestada durante a etapa inicial das negociações, em que o delator conta fatos sobre os quais pode detalhar. Os procuradores avaliam o material apresentado e discutem com a defesa as condições do acordo de colaboração.

Os pagamentos da suposta propina ocorreram entre 2009 e 2010, segundo teria dito o empreiteiro aos investigadores. O período corresponde ao fim da gestão de Aécio, que governou Minas Gerais durante dois mandatos, de 2003 a 2010. A informação foi revelada na terça-feira pelo Valor PRO, o serviço de informações em tempo real do Valor.

Três consórcios participaram de fases diferentes das obras. Um deles era formado por OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão e seria sobre esse que o ex-presidente da OAS teria fatos a delatar.

Outras empreiteiras que também são alvos da Lava-Jato, como Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Mendes Junior, participaram de outras fases das obras.

A Cidade Administrativa é um complexo construído para ser a sede do governo mineiro, concentrando as secretarias do Estado e reduzindo gastos públicos. O complexo, desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, tem dois edifícios, um centro comercial e um auditório que abriga 18 secretarias e 33 órgãos do governo.

Léo Pinheiro foi condenado em 2015 pelo juiz Sergio Moro, responsável pela Lava-Jato na primeira instância, a 16 anos e 4 meses de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e formação de organização criminosa entre 2006 e 2014 na Petrobras.

Aécio Neves não é investigado na Operação Lava-Jato. Há dois pedidos de investigação feitos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, mas que ainda precisam ser avaliados pelo ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal.

O primeiro, para apurar suposto envolvimento em irregularidades em Furnas; o segundo, para apurar envolvimento em suposta tentativa de adulterar dados na CPI dos Correios, em 2005, para beneficiar o BancoRural. No segundo pedido de inquérito, também se solicita investigação contra o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), e o deputado Carlos Sampaio (PSDB). Os fatos foram narrados por outro delator, osenador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS). Aécio Neves nega com veemência todas as acusações.

A assessoria de Aécio nega que tenha existido algum tipo de irregularidade no empreendimento. "As obras da Cidade Administrativa foram absolutamente regulares, acompanhadas pelos órgãos de fiscalização do Estado e foram realizadas com absoluta transparência. Os editais de licitação foram previamente apresentados ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas", informou em nota.

De acordo com o texto da assessoria, "o senador Aécio Neves desconhece a existência de declaração do senhor Leo Pinheiro que se refiram a ele. Se de fato houve tal declaração, o senador a repudia com veemência."

A defesa de Léo Pinheiro não retornou os contatos para comentar o assunto. A Procuradoria-Geral da República não comenta assuntos relacionados a delação premiada.