O Estado de São Paulo, n. 44760, 05/05/2016. Política, p. A11

Janot pede inquérito contra Aécio e Paes

Isadora Peron

Gustavo Aguiar

O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), é alvo de um segundo pedido de abertura de inquérito no Supremo Tribunal Federal ao lado do deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) e do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB). O pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) foi feito com base na delação premiada do senador Delcídio Amaral (sem partido-MS).

Em seu depoimento, Delcídio acusou o trio de atuar para maquiar as contas do Banco Rural durante a CPI Mista dos Correios, que investigava o escândalo do mensalão federal durante o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Delcídio, que na época era o presidente da CPI mista, afirmou ter “segurado a barra” para que não viesse à tona a movimentação financeira das empresas de Marcos Valério no Banco Rural que “atingiriam em cheio” integrantes do PSDB por causa do mensalão mineiro.

Na época, Paes era secretário-geral do partido e teria sido escalado por Aécio para atuar, juntamente com Sampaio, para postergar a apresentação de informações pelo Banco Rural.

Segundo Delcídio, o tema foi tratado na sede do governo de Minas Gerais, por volta de 2005 ou 2006, quando Aécio governava o Estado.O então governador tucano ainda lhe teria oferecido o avião do governo estadual para ir ao Rio, o que foi aceito pelo senador.

Além desse possível inquérito sobre a CPMI, Aécio também foi alvo de um pedido de investigação sobre o esquema de corrupção em Furnas.

 

Defesas. Em nota, a assessoria de imprensa de Aécio afirma que as declarações de Delcídio “são improcedentes, caluniosas e sem qualquer tipo de comprovação na realidade”.

O texto afirma não ser verdade a afirmativa de que o relatório final da CPMI dos Correios foi feito com dados maquiados fornecidos pelo Banco Rural, porque o documento teve como base “dados fornecidos também pelo Banco Central”.

A assessoria do tucano diz ainda que Sampaio e Paes “nunca atuaram para atrasar o andamento da CPMI e foram os responsáveis por pedir a quebra de sigilo do Banco Rural”.

O texto também afirma que o encontro entre Aécio e Delcídio “ocorreu dois meses depois de encerrados os trabalhos da CPMI dos Correios”.

Carlos Sampaio foi ontem, 04, à Procuradoria-Geral da República apresentar a sua defesa do caso. Ele disse aos investigadores ter sido mencionado de “maneira lateral” por Delcídio e que jamais tentou interferir no andamento da CPMI.

A assessoria de imprensa de Eduardo Paes informou que o prefeito do Rio está à disposição da Justiça para esclarecer os fatos narrados por Delcídio. Paes nega ter sido procurado por Aécio com pedido para ser beneficiado nas investigações da CPMI dos Correios, do qual, diz, tem orgulho de ter sido sub-relator.

 

AÉCIO SOB SUSPEITA

Furnas

Em seus depoimentos, o senador Delcídio Amaral apontou que, assim como o PP, o PSDB possuía influência em uma diretoria de Furnas, por meio de José Janene, morto em 2010. O doleiro Alberto Youssef disse ainda que Aécio teria recebido valores mensais, por intermédio de sua irmã, da empresa Bauruense, contratada por Furnas. Delcídio disse ter ouvido do ex-presidente Lula que Aécio o teria procurado pedindo que Dimas Toledo, apontado como o responsável pelo esquema de corrupção em Furnas, continuasse no cargo.

 

Mensalão

Delcídio acusou Aécio de agir para a maquiagem de dados do Banco Rural obtidos pela CPI dos Correios, em 2005. Segundo ele, o tucano, então governador de Minas, estava incomodado porque tais informações atingiriam pessoas próximas a ele.

 

Paraíso fiscal

 

O senador também havia citado que haveria uma fundação no paraíso fiscal de Liechtenstein da qual Aécio seria o beneficiário.

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STF arquiva ação contra Dilma por Pasadena

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki decidiu arquivar uma petição para investigar a presidente Dilma Rousseff por envolvimento na compra da Refinaria de Pasedena, nos Estados Unidos. Ele acatou um pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que entendeu ser impossível investigar o chefe do Executivo por ato estranho ao seu mandato.

No pedido enviado à Corte, Janot não avaliou as acusações feitas pelo senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) em delação premiada sobre a suposta participação da presidente na compra da refinaria. O procurador-geral da República lembrou já haver solicitado o arquivamento de uma petição semelhante pelo mesmo motivo.

Em depoimento ao Ministério Público Federal, Delcídio acusou Dilma de ter conhecimento das irregularidades envolvendo a refinaria. Apesar disso, o senador não envolve a presidente diretamente no esquema. O arquivamento sobre esse caso, no entanto, não invalida o pedido de Janot para investigar a presidente por tentar obstruir as investigações na Lava Jato. Dilma foi incluída em procedimento que investiga se ela teria tentado atrapalhar as investigações em três ocasiões.

 

Entre as acusações de Delcídio está a de que Dilma indicou nome do ministro Marcelo Navarro Ribeiro Dantas ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) para que ele votasse a favor da soltura de empresários presos na Lava Jato. Teori não deu prazo para analisar o pedido de abertura de inquérito.