O Estado de São Paulo, n. 44760, 05/05/2016. Política, p. A11

Delcídio entregou material que incrimina Lula, diz procurador

Julia Affonso

Ricardo Brandt

Mateus Coutinho

Fausto Macedo

O senador Delcídio Amaral (sem partido-MS) entregou à Procuradoria-Geral da República documentos que, segundo ele, comprovam seu encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para tramar contra a Operação Lava Jato. O petista foi denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo Tribunal Federal por obstrução à Justiça. O procurador também pediu a inclusão de Lula no inquérito que investiga dezenas de políticos por suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobrás.

Delcídio relatou ao Ministério Público Federal (MPF) que foi chamado por Lula, em maio de 2015, em São Paulo, para “tratar da necessidade de se evitar que Nestor Cerveró fizesse acordo de colaboração premiada”. Segundo o senador, Lula o teria incumbido de “viabilizar a compra do silêncio de Nestor” para proteger o pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente.

Janot anotou em manifestação ao STF: “A respeito desse fato, há diversos outros elementos, tais como e-mail com comprovante de agendamento da reunião entre Lula e Delcídio no Instituto Lula, no dia 8 de maio de 2015; comprovantes de deslocamento efetivo do senador para São Paulo compatível com esta data; outros documentos que atestam diversas outras reuniões entre Lula e Delcídio no período coincidente às negociatas envolvendo o silêncio de Nestor Cerveró, além de registros de diversas conversas telefônicas mantidas entre Lula e (o pecuarista) José Carlos Bumlai e entre este e Delcídio”.

 

Gravação. O procurador-geral levou em consideração, no pedido de aditamento à denúncia contra Delcídio, as gravações feitas por Bernardo Cerveró, filho de Nestor Cerveró. Em novembro de 2015, o ator entregou um áudio “revelador da grande trama criminosa envolvendo a obstrução da presente investigação, por meio da compra do silêncio de Nestor Cerveró”, segundo Janot.

“A partir daí as investigações ganharam novos contornos e se constatou que Luiz Inácio Lula da Silva, José Carlos Bumlai e Mauricio Bumlai atuaram na compra do silêncio de Nestor Cerveró para proteger outros interesses, além daqueles inerentes a Delcídio e a André Esteves, dando ensejo ao aditamento da denúncia anteriormente oferecida nos Autos 4170/STF”, diz Janot.

O Instituto Lula afirmou que a análise da Procuradoria-Geral “indica apenas suposições e hipóteses sem qualquer valor de prova”. “Trata-se de uma antecipação de juízo, ofensiva e inaceitável, com base unicamente na palavra de um criminoso.” Lula, segundo a defesa, “não participou nem direta nem indiretamente de qualquer dos fatos investigados na Operação Lava Jato”.

A assessoria de Delcídio informou que o senador não vai comentar o assunto. A defesa do banqueiro André Esteves, ex-presidente do BTG, reiterou que ele “não cometeu nenhuma irregularidade”. / JULIA AFFONSO, RICARDO BRANDT, MATEUS COUTINHO e FAUSTO MACEDO

 

PONTOS-CHAVE

Os elementos colhidos pela PGR contra Lula

Reunião

Em manifestação ao STF, Janot anotou ter e-mail com comprovante de agendamento da reunião entre Lula e Delcídio no Instituto Lula, em 8 de maio de 2015.

 

Deslocamentos

Janot relata ao Supremo ter comprovantes de deslocamento efetivo do senador para São Paulo compatível com a data de 8 de maio de 2015.

 

Outros

Janot diz ter “outros documentos” sobre outras reuniões entre Lula e Delcídio no período coincidente às negociatas envolvendo o silêncio de Nestor Cerveró.

 

Telefone

 

Janot encarta ainda registros de diversas conversas telefônicas mantidas entre Lula e o  pecuarista José Carlos Bumlai e entre este e Delcídio.