O Estado de São Paulo, n. 44760, 05/05/2016. Política, p. A12

Youssef diz que movimentava caixa 2 de empreiteiras

Figura emblemática da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef foi ouvido mais uma vez pelo juiz federal Sérgio Moro, da 13.ª Vara Federal em Curitiba, ontem, 04, em ação penal que investiga o uso de laranjas para manutenção de contas secretas na Suíça e em Hong Kong de sua lavanderia de dinheiro usada por empresas do cartel que fatiava obras na Petrobrás.

O doleiro citou movimentação de valores de caixa 2 das empreiteiras OAS e UTC.

“O primeiro propósito (das contas no exterior) na questão de investimentos. Depois num segundo propósito, quando nosso grupo entrou em declínio por conta do mercado, aí passei a utilizar essas contas para fazer alguns negócios”, afirmou Youssef, delator e já condenado em outros processos da Operação Lava Jato.

“Negócios esses de intermediação de pagamentos?”, questionou Moro. “Sim”, respondeu o doleiro. “Intermediação de propinas, o senhor está dizendo?”, insistiu o juiz.

“Na verdade, como eu tinha a questão do caixa 2 da OAS e do caixa 2 da UTC, eu acabei utilizando dessa empresa para receber alguns valores e transforma-los em reais e fazer alguns pagamentos aqui. E também alguns pagamentos no exterior”, afirmou Youssef.

 

Entrega. O doleiro explicou em seu depoimento que a OAS e a UTC pagavam valores para essas empresas com contas no exterior e ele ficava responsável por dispor de dinheiro para a entrega. Youssef citou entregas de valores a agentes públicos e explicou o papel de seus funcionários e parceiros, como João Procópio Junqueira Pacheco, também réu no mesmo processo.

De família tradicional paulista, João Procópio teria começado a atuar com o doleiro entre 2008 e 2009. Ele teria passado a cuidar de contas no exterior usada por Youssef.

 

O doleiro disse que as contas eram abertas em nome do parceiro, mas controladas e movimentadas por ele. Também foi ouvido Rafael Ângulo Lopez, que era uma espécie de carregador de dinheiro do doleiro.

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Partido pediu propina em 2008, diz PGR

Na petição ao Supremo Tribunal Federal (STF) em que pede a inclusão do ex-presidente Lula no rol de investigados da Operação Lava Jato, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, usa como um de seus argumento a delação premiada de ex-executivos da empreiteira Andrade Gutierrez.

Janot transcreve trechos dos relatos dos ex-presidentes da Andrade Otávio Marques de Azevedo e Rogério Nora e do executivo Flávio Machado. “As colaborações firmadas com ex-executivos da empresa Andrade Gutierrez vão no mesmo sentido dos depoimentos de Nestor Cerveró (ex-diretor da área Internacional da Petrobrás) e Delcídio Amaral (senador e ex-líder do Governo) e acrescentam informações ainda mais detalhadas de como funcionou o esquema de arrecadação de propina nas diversas obras executadas por essa empreiteira”, afirma Janot.

De acordo com o documento, Otavio Azevedo, em seu primeiro Termo de Colaboração, “foi claro ao dizer que em 2008 teve reunião, a pedido do PT, com o então presidente do Partido, hoje ministro, Ricardo Berzoini, que de forma bastante clara e na presença do então tesoureiro do PT, João Vaccari e do executivo da Andrade Flavio Machado, cobrou, a título de propina, 1 % de todas as obras negociadas entre a empresa e o governo federal, desde o início de 2003, quando o ex-presidente Lula assumiu o governo”.

 

O porcentual, nas palavras do colaborador, devia ser pago em relação às “obras presentes, passadas e futuras da AG, isto é, de 2003 pra frente”. Segundo Janot, baseado nas delações, “ficou acertado que o pagamento da propina seria feito em relação a algumas obras em andamento e a todas as futuras”. O PT diz que as doações recebidas foram legais e declaradas à Justiça. / F.M. J.A., R.B. G.A. e M.C.